As divindades coléricas
Vivemos na Idade Média. Somos como os povos europeus daqueles séculos, atemorizados, impotentes, submissos, covardes não raro, sempre à procura de um Deus ou de protetor humano, que nos proteja dos bandoleiros e, em troca de trabalho escravo, nos dê casa e comida. Gostamos de ser tutelados, apesar dos protestos em contrário. Não tem nada a ver com tecnologia, que mudou o mundo mas não mudou corações e mentes.
As pestes se disseminam e até a tese medieval que tudo era castigo divino se mantém. Às vezes, as divindades coléricas se mostram como mosquitos. Assim como hoje temos os meios de comunicação, os arautos da rainha propagavam mensagens aos quatro ventos. Nem sempre o arauto era honesto e as mensagens por ele difundidas resultavam numa torre de Babel.
O deus vigente criou um inseto que pode transmitir até 200 doenças. E crescendo. Então os laboratórios reais criaram um medicamento para colocar na água. Assim que seu uso foi disseminado, feiticeiros argentinos disseram que ele causava microcefalia, apesar dos doutores o terem recomendado.
O arauto criou pânico. Algumas autoridades do rei proibiram seu uso. A confusão só aumentou. Alguns soldados postados nas seteiras do castelo foram chamados para ajudar. O demônio enviado por Deus era o mosquito e seu feitiço só precisava de água para causar doenças. Todo o poder do castelo, apresentando fissuras alarmantes nas muralhas, não conseguia derrubar um mosquito.
Como nos idos da Idade Média, estamos ferrados.