As duas alegrias
Era homem de respeito. Sua palavra era lei, embora em priscas eras seus argumentos eram reforçados com um 44 azeitado e reluzente como enfeite de china. Primeiro foram os amigos dos Campos de Cima da Serra, depois todo mundo o chamava de tio mesmo quando se tornou alto prócer da política gaúcha.
Tirando bravuras indômitas da juventude, o homem era um bom papo. Quando falava, as palavras saíam espremidas entre os lábios mais apertados que os cilindros de moenda de cana. Certa vez, uma roda em uma uisqueria da Capital, alguém comentou as dificuldades de idosos em conseguir namoradas na pessoa física. Verdade, disse outro, depois de uma certa idade só na pessoa jurídica. Com o queixo apoiado nas mãos, que por sua vez se apoiavam na bengala, o tio concordou.
– As mulheres que me fazem companhia têm sempre duas grandes alegrias: uma quando as pago, e outra quando me despeço.