As aventuras do Capitão Atlas
Muito antes do Capitão que está no governo, tivemos outros às mancheias, como o Capitães da Areia, do Jorge Amado, e tantos outros. O meu preferido era o Capitão Atlas. Tinha eu lá meus 8 ou 9 anos, final da década de 1940, e ele dava o ar da graça antes da Hora do Brasil, um seriado policial na Rádio Nacional, do Rio de Janeiro AM. E só se pegava em rádio com ondas curtas. Já ouviu falar? Não? Pena. Atlas e alguns comandados lutava contra o crime e a injustiça e tinha na gurizada uma fanática torcida.
Minutos antes do programa começar eu e meu irmão Paulo Cristiano ligávamos o rádio alemão marca Mende para aquecer a válvula e, depois de longa e laboriosa luta, sintonizar o programa. Tenho na memória cheiros, ruídos e sons como se fosse ontem.
O aparelho ficava na cozinha, e a sintonia fugia a toda hora. Especialmente quando em momentos críticos da radionovela. Acho que o avô do Murphy já aprontava naquela época. O desespero meu e do Paulo para voltar à sintonia era algo. Já naquele tempo a mãe do Mende era invocada a toda hora, mas não de forma elogiosa.
O fogão a lenha localizava-se a dois metros – se tanto – da banqueta onde estava o rádio. A energia elétrica gerada pelo moinho colonial de São Vendelino era desligada às 22h. O cheiro que está nas minhas papilas olfativas até hoje é uma mistura de chá preparado por minha mãe – o café era caro e ruim como carne de cobra – e um pão sem fermento cozido no vapor e embebido em creme de baunilha, chamado tampf (fumaça, vapor) nudle (massa). Nunca mais comi.
O cheiro de terra e mato invadia a casa ao anoitecer. A lenha crepitando no fogão mais o chiado da chaleira misturado com o som de vai-e-vem do rádio e a interferência eram a minha Quinta Sinfonia, por assim dizer, com a devida licença de Ludwig Van.
A cereja sonora desse vagalhão de saudosas lembranças era o cri-cri de um grilo solitário à procura de uma namorada.
Privilegio ler este texto,rico em detalhes,Parabens !