A manchete da vergonha
Repare bem na capa da Zero Hora de 23 de novembro de 1966, reproduzida pelo jornal. Não vê nada de errado? Quem detectou o erro ou não, acompanhe a história. Na noite anterior estávamos eu e o jornalista Carlos Coelho, pai de todas as páginas 3 do jornalismo gaúcho, jantando no bar Gilbert’s, na Salgado Filho. Passava bem das 23h, e o Coelho, que fazia a manchete e o editorial da ZH, encheu o saco dizendo que tinha alguma coisa errada mas ele não atinava o que era.
Para entrar no espírito da história: o ex-governador do Rio e deputado Carlos Lacerda, que apoiou os militares no início, depois se desgostou e passou a atacar o regime e, em especial, o presidente Castelo Branco. Então a linha dura pediu a cabeça do Lacerda.
Então pegamos um táxi e fomos para a oficina da ZH, que ficava na rua Luiz Afonso, Cidade Baixa. O jornal ainda pertencia a Ary de Carvalho. Veio o chefe da oficina, já pê da cara. Mostrou a prova de página.
– Coelhinho, tu já tá de cara cheia, não tem nada de errado. Vai pra casa dormir!
Também achei algo estranho, mas confesso que nem olhei com olhos de olhar. Em vez de “hesita” o Coelho lascou “exita”, um erro primário que, na época, era um sacrilégio errar feio assim. Fomos embora, mas o Coelho me disse depois que não pregou o olho.
Na primeira hora do dia seguinte, a telefonista do jornal atendeu uma mulher que se dizia professora. Que só fez uma pergunta e desligou.
– Vocês não tem vergonha?
O Coelho quis se matar.