Chope pro neném
O já falecido comerciante Francisco José Albrecht, nascido em Isny in Algau, Alemanha, chegou ao Brasil em 1920 e se radicou no Vale do Caí. Era meu pai. No início dos anos 1950, ele voltou à Alemanha para visitar seus pais. Cumprido o roteiro familiar, o velho Franz Josef deu uma esticada em Munique e, obviamente, foi molhar as ideias na famosa cervejaria Hofbrauhaus, um estabelecimento com mais de 400 anos.
Na incursão cervejeira, seu Albrecht teve a companhia de um turista brasileiro, descendente de alemães mas com pouca ou nenhuma ligação cultural, linguística e etílica com seus antepassados. Instalados numa mesa, pediram chope, servido naquelas enormes canecas de um litro. Veio uma alemoa parruda carregando cinco canecas de um litro em cada mão.
– Nein, nein, quero um chope em copo, pequeno – disse o brasileiro em português.
A garçonete, talvez um protótipo do primeiro panzer, só entendeu o “nein”. Olhou interrogativamente para o parceiro, que explicou a ela em alemão o pedido do seu amigo. Ela suspirou, revirou os olhos, largou as canecas na mesa e afagou a cabeça do brasileiro, homem dos seus 50 e tantos anos e falou carinhosamente.
– Wir verkaufen kein Bier für kinder. Bitte, kommen Sie wieder wenn Sie erwachsen sind.
E deu meia volta para servir outras mesas. Meu pai caiu na gargalhada. Curioso, o brasileiro pediu a tradução. Quando a ouviu, fechou a cara. Significava:
– Não vendemos cerveja para crianças. Por favor, volte quando tiver crescido.