Entro no restaurante, boto as luvas me sirvo e sento. Tiro a máscara e começo a comer. A metros de distância, vem uma senhora de meia idade usando máscara cirúrgica. Já de luvas, tira um frasco de álcool da bolsa desprezando a que está na mesa. Asperge toda mesa e  cadeira.

Segundo ato

Pega um maço de guardanapos de papel e os encharca com álcool. Encharca mesmo. Esfrega o tampo furiosamente também encharcado com álcool. Repete a operação com a cadeira. Espera um tempo e molha novo a mesa e a cadeira e espera secar. O frasco que ela trouxe está quase vazio

Terceiro ato

Depois de algum tempo, substitui as luvas – duas, o protocolo manda usar uma – vai ao bufê, tira o prato de baixo da pilha e se serve. Volta à mesa só quando não tem ninguém no caminho. Serve mais uma dose de álcool para a mesa e, só então, começa a comer. Não sem antes me alvejar com flechas de hostilidade.

A curva do sexo

Aumenta vertiginosamente o número de mulheres que prescindem dos homens para atividade sexual. Não é juízo de valor, é constatação. Ao mesmo tempo, também aumenta vertiginosamente o número de homens que delas prescindem, outra constatação. Quando essas curvas se cruzarem, bem, aí a reprodução humana também pode prescindir do ato sexual. Como no filme Barbarella, dos anos 1970, com Jane Fonda. Duvidar, quem há de?

Tabu cochichado

Mesmo com toda a abertura ampla, geral e irrestrita sobre tudo que, no passado, era apenas cochichado, o sexo ainda é tabu, especialmente quando se trata de ligações afetivas entre pessoas do mesmo sexo. E aí entra o reinado da hipocrisia. Na imprensa em geral, colocam-se notas comentando relações homossexuais aparentemente anódinas, mas por baixo do capuz da informação vem o tititi da malícia. Sejamos francos: da fofoca. Sexo entre iguais ainda é tabu.

Pelos & cabelos

Existem estudos sobre a presença e permanência do coronavírus no esgoto, em superfícies planas ou irregulares, mas nenhum sobre barba e cabelo, ao menos que se saiba. Nem mesmo há recomendação óbvia que se deve lavar bem o rosto ou tomar banho quando chegar em casa. Às vezes, o essencial é invisível aos olhos, como escreveu Antoine de Saint Exupery.