Vaca sem terra
O major Pedro Olímpio Pires, estancieiro forte do Alegrete, gostava de frequentar a Churrasquita, na Riachuelo entre Borges e a Praça da Matriz. Era sempre recebido com honras de estado pelo proprietário, Eugênio Zimmer, e também pelo seu amigo, motorista e eventual guarda-costas Arsênio Marques, inspetor de Polícia nas horas vagas.
Certa feita, após uma lauta churrascada regada a libações, o major passou a ouvir as lamúrias de Arsênio, afinal ele era pobre como rato de igreja enquanto o alegretense era dono de mais de légua de campo, tanto que ele queria criar gado… Ambos foram às lágrimas, abraçados. Quanto a torrente cessou, o major comunicou ao amigo que lhe daria a melhor vaca do plantel para começar sua criação. Arsênio rejubilou-se. Porém, dois ou três uísques depois o presentado quedou sombrio.
– Major, estive pensando. Que adianta eu ter vaca se não tenho campo?
O major Pedrinho aquiesceu fazendo sim com a cabeça. Segundos depois, seu rosto se iluminou.
– Arsênio, quem sabe eu compro a vaca de volta? Pago à vista.
Foi a vez do amigão abrir um sorriso do tamanho de uma cordeona escancarada.
– Fechado! O senhor acaba de fazer uma bela compra!
Se abraçaram novamente, aos prantos.
Alguns comentam que, de tão feliz, o Arsênio pagou a conta desta vez!