Uma viagem ao exterior
Clio do Cavaquinho era uma unanimidade na MPB dos anos 1960 e 1970. Fazia o instrumento chorar ou sorrir conforme a necessidade. Um dia encontrou um violonista exímio no violão sete cordas, que eventualmente o acompanhava nos shows e discos e sentaram na mesa de um bar, nas quebradas do mundaréu.
Os verdes anos tinham passado, ambos já sentiam o peso das madrugadas a serviço da paixão. Vieram as inevitáveis reminiscências, então trocaram melancolias. Lá pelas tantas da trova, Clio se queixou do ocaso inevitável quando o amigo o interrompeu.
– Tu se queixando da vida? Mas o que isso, parceria! Gravaste discos, sempre foste aplaudido nos shows, até um bar tiveste. Enquanto isso, eu sempre fui um ilustre desconhecido que ninguém reconhecia na rua.
Clio foi afundando na cadeira.
– E tem mais: nem consegui realizar o maior sonho da minha vida. Queria viajar para o exterior.
– E para qual país queres viajar?
– Libres.
– Como é que é?
– Libres, já falei.
– Tens certeza?
– Tenho.
Alguns dias depois, eles embarcaram em um trem húngaro rumo a Uruguaiana. Atravessaram a ponte e foram para um bar em Libres. Molharam palavras e ideias até mais não poder. No dia seguinte, voltaram a Porto Alegre. E o amigão de Clio passou o resto dos seus dias contando que conhecia o exterior.