Um país monty python

7 jun • Caso do Dia, NotasNenhum comentário em Um país monty python

O Brasil é um país absolutamente inacreditável. Depois de séculos até o parece que vai-mas-não-foi agora estamos tomando o rumo da história andando de patinete. Dos antigos, sem bateria, um pé no chão e outro no estribo. Na primeira metade do século passado, vivemos revolução em cima de revolução, patriotadas, tentativas de putch e marchas-a-ré sem conta.

PRIMEIRA PIADA

O primeiro movimento hilário foi a Revolução de 1930, comandada por Getúlio Vargas. A pretexto de fortalecer a Federação acabou por destruí-la. Na ditadura do Estado Novo, houve um acontecimento que resume bem essa nossa ópera bufa. Instigada pela filha Alzira, as bandeiras de todos os Estados foram queimadas em praça pública em São Paulo. A partir de então, só a Bandeira Nacional podia ser hasteada.

PAUSA PARA O CHIMARRÃO

Quem se queixa dos filhos do Capitão, imaginem esse ato partido da filha do presidente, que foi ditador, mas todos insistem em chamar de presidente. Você aí mateando no galpão e fã do trabalhismo, sabe disso ou finge não saber? Pensando bem, não sabia. Ou se sabia, releva.

OS DESMEMORIADOS

Dali para a frente foi isso que a gente sabe. E quem não sabe é feliz porque não tem ideia das sacanagens feitas. O pensador inglês Doctor Samuel Johnson dizia que o patriotismo é o último refúgio dos patifes. Então somos os que mais os têm em relação à população passada, presente e provavelmente, vindoura.

O SENTIDO DO BRASIL

O hilário grupo inglês, que fez obras-primas como a Vida de Brian e O Sentido da Vida, não conseguiria fazer um filme sobre nosso País que não seria comédia, mas acaba feito para rir. O humor involuntário. Mas não me entendam mal, eu gosto muito do Brasil. Ele me permite rir, o que já é uma coisa notável.

GRANDE ANGULAR

De tanto lidar com a informação e sendo como sou filho do jornal impresso, certa vez tive uma visão. Abri os grandes jornais e os do meu estado e olhei as capas. Descobri um padrão. Parte todos conhecem, que é a presença dos governos em pelo menos metade das capas e manchetes. Mas algo me escapava, e eu não sabia o que era. Passei dias, semanas, fazendo a mesma operação visual antes de afundar nas matérias e nada.

APOCALIPSE JÁ

Esta expressão, vocês sabem, significa Revelação. Pois eu a tive. Reparem que raramente os governos anunciam uma notícia realmente boa. Em dois terços e até mais o que se colhe são os pepinos expostos para o público. Em vez de governar, eles administram não a escassez, mas os frutos da planta que os gera. Ou seja, estamos perpetuamente em crise, e cheios de dívidas. A culpa é sempre dos outros, claro.

CURTINDO A VIDA ADOIDADO

Então, caro compatriota, resignemos nós todos. Só dói quando rimos. Isso posto, eu e não sei quantos brasileiros podemos nos queixar do Criador. Nascemos com grave defeito: falta-nos o dom da burrice, que os outros ganharam em doses cavalares. Ou doses muares. Fecha bem o circuito.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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