Um bicho na moleira
Não era fácil ser criança nos anos 1940/50. Além da dureza dos pais e dos professores, convivia-se com toda sorte de doenças e achaques que os pais e filhos de hoje nem sonham. Por causa da falta de refrigeração nos alimentos e higiene precária, um monte de bichinhos entrava no corpo das criancinhas. Vermes e bicho-de-pé eram dois, para começar. Outro seria encarado hoje como invasão alien, um filme de terror real.
Chama-se berne e entrava pelo couro cabeludo e pela moleira. Felizmente, esse filme de terror alien tinha um antídoto, a pomada Springer. Era preta, com consistência de chiclete já mascado. As mães raspavam os cabelos na área, aqueciam a pomada em uma vela e aplicavam o emplastro, fixado com esparadrapo. Dias depois, tirava-se o emplastro e lá estava o verme infame colado na pomada preta.
Não me perguntem como era esse milagre. Talvez matasse o bicho por sufocamento e ele procurava em vão uma saída. E não deixava filhos. Só fui invadido uma vez.