Um banco feminino
Gosto muito da frase e a uso amiúde do jornalista Ivan Lessa: de 15 em 15 anos, o Brasil esquece os últimos 15 anos. Com a ocupação crescente dos espaços públicos e privados pelas mulheres, deveria pelo menos ter uma galeria de pioneiros. Então como ex-funcionário de um banco gaúcho que não existe mais, o Província, em verdade vos digo que este bastião do conservadorismo feminino criou, na metade dos anos 1960 – eu escrevi 1960! – uma agência exclusivamente feminina, inclusive com mulheres em todos os cargos da agência.
A agência ficava quase na esquina da rua Marechal Floriano com a Riachuelo. Não se aceitavam clientes homens, portanto não se viam homens nesta agência do Banco da Província. Elas dispunham de banheiro luxuoso, espaço para maquiagem e até uma costureira para consertar emergências, pregar botões etc. Pode ser que hoje exista algum banco com agência nestes moldes, mas se existe não o divulgam.
Na época, ninguém achou estranho, todos os clientes e a sociedade aplaudiram. Depois o banco foi vendido e terminou-se o que era doce. O Província era chamado “O velho jequitibá” pela sua antiguidade – foi fundado em 1858 – e era extremamente conservador nos negócios. Sei porque fui assistente da gerência da matriz antes de enveredar para o jornalismo.
Isso sim que merecia ser lembrado cada vez que se fala no machismo dos velhos tempos.