Transplante de chama
Tocha por tocha fico com o Fogo Simbólico, aceso nas margens do Arroio Ipiranga e cujas filhotes acendem as Piras da Pátria de todas as cidades. Acendiam. Quase ninguém dá mais bola para ele, coitado. Houve tempo em que assim que ele era extinguido na noite do 7 de Setembro, sua última centelha acendia a Chama Crioula. E dali era carregado por gente dos CTGs para o hall de entrada do Palácio Piratini, onde permanecia aceso até a noite de 20 de Setembro
Mas um dia ele apagou na operação. Foi durante o Governo Jair Soares. O governador e seu secretariado mais autoridades outras assistiam a cerimônia solene com ares também solenes, mas no transplante de chamas algo deu errado. Dava para pegar no ar de tão palpável que era o silêncio constrangedor que se seguiu. Do finado, só subiu um fiozinho de fumaça como alma penada indo para o além, para o céu dos fogos simbólicos e das chamas crioulas.
Mas ninguém contava com a astúcia de um oficial da Brigada Militar. A ver a cena, sacou de um reluzente isqueiro Zippo e reacendeu não só o símbolo farroupilha como as esperanças dos presentes. O fiasco fora incinerado, afinal de contas, o que gerou suspiros de alívio da plateia. Afinal, foram breves segundos e pouca gente viu.
Até de noite, quando um telejornal colocou no ar as imagens do morto-vivo.
Foto: João Mattos