Todo mndo rico

27 mar • ArtigosNenhum comentário em Todo mndo rico

Davi Castiel Menda

 Já imaginaram: todos os 210 milhões de brasileiros, cada um com um milhão de dólares na mão?

Nesta situação que estamos atravessando, em que todos são PHD’s em qualquer assunto, em que os governos liberam generosa e escandalosamente suas burras para amenizar a situação do povo, apresentadores de TV nos transmitem ideias esdrúxulas as quais nos sentimos constrangidos com tanta ignorância ou insensatez, ficamos a imaginar se já vimos de tudo.

Não, não vimos. Profetizando nossos temores, algo de fantástico aconteceu. Os países mais ricos do mundo se cotizaram, passaram um whats para alguns políticos brasileiros, estes se reuniram às pressas em Brasília, a Câmara aprovou à tarde. o Senado ratificou à noite. Venderam a Amazônia! Valor: 210 trilhões de dólares.

Motivo apresentado para aprovarem a venda: o valor seria distribuído entre todos os brasileiros, em partes iguais. Um milhão de dólares para cada brasileiro, brasileira, independentemente de sua situação financeira, idade, credo ou cor.

Nem sei se existe esta dinheirama toda mas, vamos dar asas à nossa imaginação e acreditar que sim. Já imaginaram, todos os 210 milhões de brasileiros, cada um com um milhão de dólares na mão? Todo mundo rico!

E, eu pergunto, e daí?

Inicialmente, haveria uma corrida aos bancos, num processo inédito e inverso ao tradicional, todos desejando depositar seu milhão (de dólares) na poupança. Como? Quem falou? Os bancos não pagariam juros? É óbvio, não tendo para quem emprestar, na realidade os bancos cobrariam taxas – elevadíssimas – para guardar seu dinheiro. Esqueça a utópica possibilidade de viver de rendas.

Randomicamente, escolhamos uma categoria profissional: pronto, a dos executivos, acostumados a mordomias, secretárias elegantes, bonitas, motoristas atenciosos – a partir de agora não poderiam mais contar com esses, por um simples motivo: por que alguém, com um milhão no bolso, iria trabalhar por quaisquer dois, três ou cinco mil reais? E dando um salto na escala empregatícia, e com o devido respeito à profissão, que nada deve a dos executivos, quem iria recolher o lixo?

E aqueles que sempre sonharam com a casa própria, teriam a maior decepção de sua vida. No contraponto da escassez histórica de moradias versus excesso de dinheiro e compradores, um simples apartamento JK valeria algumas dezenas de milhões de dólares, frustrando os novos-ricos que, apesar de endinheirados, continuariam catalogados na categoria dos sem-teto. Novos imóveis não seriam construídos, pois os trabalhadores da construção civil, carpinteiros, mestres, ou simples peões, agora travestidos de milionários, estariam indisponíveis pensando nos seus investimentos.

Os colégios fechariam, afinal, 100% dos estudantes, ricos já na adolescência, não teriam mais desafios pela frente. Milionários, sabendo digitar alguns sons onomatopéicos no teclado do seu computador, o suficiente para entrar no facebook ou twitter da vida, e manter um resquício de tentativa de comunicação com o mundo exterior, estariam plenamente satisfeitos e realizados.

Meus amigos, proprietários de agências lotéricas, quebrariam de vez. O sonho de milhões de brasileiros, de enriquecer através do acerto de qualquer uma das lotéricas numéricas, se tornaria inócuo. A venda da Amazônia se encarregaria de liquidar com a mania nacional das filas em busca do acerto da mega sena acumulada. Seria o fim das lotéricas.

E, entre tantos dissabores, duas alegrias!  A primeira, não haveria mais o Big Brother Brasil! Os prováveis participantes, donos de um milhão cada um, não se interessariam pelo valor modesto do prêmio, e nós finalmente estaríamos livres dessa praga que assola a televisão brasileira com diuturnidade. E a segunda: o INSS estaria livre da falência tão sistematicamente apregoada: os aposentados, velhinhos e velhinhas, agora todos milionários, deixariam compulsoriamente de receber suas pensões e aposentadorias, que tanto prejudicam o Instituto, permitindo desta forma que o governo aumentasse os salários dos sofridos deputados e senadores, para um valor mais do que justo, estimado em 91%, e não o “salário de fome” que hoje percebem.

Ninguém mais seria empregado – todo mundo financista, banqueiro, patrão, prestamista (um eufemismo para o agressivo vocábulo agiota), mas todos sem clientes, sem empregados, sem tomadores para o dinheiro fácil. A inflação que grassou na Alemanha no século passado, quando as pessoas eram vistas carregando um carrinho de mão atulhado de dinheiro, com o intuito de comprar apenas um litro de leite, ao custo de bilhões de marcos, seria “fichinha” perto da inflação a que seríamos acometidos.

Pelo menos estaríamos livres daqueles distribuidores de santinhos que infestam as principais ruas das cidades, oferecendo dinheiro à vontade, afinal de contas, ninguém precisaria mais de empréstimos. Todo mundo rico…

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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