Síndrome do viaduto
Por volta de 1966/67, um ano ou dois antes de começar minha carreira jornalística como repórter policial da madrugada do jornal Zero Hora, quando ainda pertencia a Ary de Carvalho, ouvi do meu colega Uirapuru Mendes que os chefes de reportagem policial dos seis jornais diários que circulavam em Porto Alegre, haviam feito um acordo de cavalheiros: ao contrário da regra até então, suicídios não seriam mais publicados, salvo se existisse dúvida razoável e possibilidade de homicídio. E isso foi cumprido. No primeiro dia que me apresentei para meu chefe, Vilmo Medeiros, ouvi dele várias recomendações, foca que era e ávido para ser veterano.
Se alguma delegacia, o HPS ou o Plantão da Polícia Judiciária registrar um suicídio, faça um relatório com o maior número de dados disponíveis, disse o Vilmo, dedo em riste na minha assustada cara. Como o principal requisito para ser um bom repórter é a curiosidade, perguntei se esse acordo, por ele confirmado, teve origem em algum caso. Tem, disse ele. E contou.
Nos anos 1960, boa parte dos suicidas se jogava dos altos da Viaduto Otávio Rocha. Eles (e elas) subiam no parapeito que separava a calçada da rua Duque de Caxias e se jogavam no leito da Borges de Medeiros. Com o acordo, aos poucos o viaduto deixou de ser o local escolhido pelos que optaram pelo “tresloucado gesto”, como se falava então. Meses depois, perguntei a um policial que fazia os registros de homicídios e suicídios e ele contou que, sim, havia caído o número, se não dos suicídios, pelo menos das TENTATIVAS de suicídio, especialmente no viaduto.
Não quero dar lição de moral nem nada. Apenas registro o caso como o caso foi e, por óbvio, o que penso da tal de Baleia Azul e sua divulgação.