Sem décimo terceiro
O bar, restaurante e rotisserie Pelotense tinha esse meio do nome nobre por berço. Nos anos 1950, o estabelecimento da Rua Riachuelo de Porto Alegre era frequentado por cavalheiros de gravata e relógio de bolso. As senhoras sentadas em cadeiras de ferro trabalhado e mesas de mármore usavam chapéu e longos embebidos em perfume francês, eventualmente também com champanhe Veuve Clicqot, que a plebe ignara logo rebatizou de A Viúva.
Passaram-se os anos e os dinheiros e a Pelotense, além de um cardápio apenas razoável, virou palco da fundação do Proálcool, representada pela barulhenta Mesa Um. A roda era formada por advogados, magistrados, jornalistas, engenheiros e outros que tais. No balcão, também de mármore, aperitivava a turma dos Em Pé. Detestavam beber sentados por um motivo ou outro.
Um deles, um senhor rubicundo com jeito de porquinho da Índia anabolizado, bebia o seu martelinho de maracujá com cachaça de um gole só. Fazia glu-glu-glu em três segundos. Ato contínuo, saia do recinto não sem antes se virar para a mesa e rogar uma praga. Em tom profético, com vozeirão que parecia sair do indicador apontado para cada um em rodízio.
– Vais para o São Miguel e Almas, e não demora!
Talvez não tenha registrado a ameaça em cartório, porque foi ele quem subiu primeiro a lomba do cemitério. Alguma comorbidade, talvez. Não recebeu o décimo terceiro naquele ano.