Samba de uma nota só
Há um componente pouco conhecido na cobertura dos fatos do dia, que tem focado o mais do mesmo, pandemia, curvas do vírus, crise do governo Bolsonaro, STF blá blá blá. É verdade que a imprensa em geral não tem largado o pé do Capitão pelo que ele fez e pelo que não fez. É ir além do dever. Mas a cobertura de outros fatos, como ficou?
Mal. Antes mesmo desse bichinho tenebroso atanazar a vida do mundo inteiro os jornais já estavam com as pernas bambas por falta de oxigênio financeiro. E essa despressurização vem de anos, acentuada a partir e 2018.
A primeira providência que uma empresa toma quando cai o faturamento é cortar gastos diversos, concomitantemente com cortes no pessoal. Os que ganhavam mais, justamente os que fizeram por merecer o salário mais alto, foram os primeiros ceifados. Depois, chegou a vez dos médios.
CORTES PELO PÉ
Quando uma matéria, artigo ou coluna tem mais toques que a página suporta e não há tempo para reduzir o conteúdo, o editor ameaça “cortar pelo pé”, mesmo que torne o texto sem sentido. É solução extrema abandonada depois que a diagramação resolvia o problema eletronicamente. Mas no caso de cortes de profissionais, não há eletrônica que resolva.
QUERIDOS, ENCOLHI VOCÊS
Cortes nessa dimensão significam cortar qualidade agregada ao produto, outra velharia que ainda é o melhor resumo da coisa. Então fomos perdendo qualidade. E quantidade. Não se pode multiplicar repórteres. Como é impossível cobrir tudo o que acontece, é mais impossível ainda com redução drástica nas redações. Então cortaram pelo pé. Sacou?
ONDE MORA O CIFRÃO
Antes da bronca, dizia-se que havia poucos países em que ainda se podia ganhar muito dinheiro. Bilionários, em suma. Não confundir com salários altos, falo de grana e de rico de verdade. Quase todas as fronteiras monetárias já foram exploradas. A tecnologia da informação foi a última. Comércio eletrônico também.
As exceções se concentravam em países do Sudeste Asiático. Brasil ainda tinha espaço. EUA, só no show bizz, aquela turma que ganha oito dígitos por ano e torra nove em besteiras cromadas, com festas de 100 mil dólares para um grupo de amigos. Pois aposto que o Rei Midas voltou.
Com a economia mundial resetada, tudo está barato. É uma nova corrida ao ouro. Depende de correr riscos altos para ganhar montanhas altas de dinheiro. Onde e como, seu sabichão, perguntarão vocês. Meu camaradinha, é só o que sei. Sei, mas não sou garimpeiro na Califórnia do século 19. Se soubesse onde e como, não seria mais um abnegado, mas pobre jornalista. Olhe a frase do dia de hoje.