Retrato fiel
Já dobrando a esquina dos 90 anos, o jornalista Roberto Marinho continuava trabalhando e mergulhando nas águas de Cabo Frio. Dizia-se que ele costumava dizer nas reuniões de diretoria “se um dia eu vier a morrer”, detalhando então as ordens.
Eu sou um acumulador. De causos e de objetos, então o porta-malas do meu carro é um brechó, idem meu armário no jornal. Se algum rato entrar nele nunca achará o caminho de saída. De vez em quando me bate remorso e resolvo fazer uma limpa. Então vejo sempre um rolo de radiografias do quadril para baixo que fiz há anos, que ocupam muito espaço. Ia botar tudo no lixo, mas depois pensei, melhor não.
Se um dia eu vier a morrer, deixarei as radiografias de boa parte dos meus ossos à disposição de amigos que então não precisarão me visitar na última morada. Basta pedir para meus familiares que os mostrem quando ainda estavam vivos e fortes e me levavam para cima e para baixo.
Por enquanto, e tomara que por um bom tempo, ainda levam.