Que tiro foi esse?
Ameaças de morte raramente são anunciadas, mesmo não desprezando o lado perverso desse tipo de ameaça, colunistas, como eu, repórteres e outros profissionais da imprensa são ameaçados de morte várias vezes. Em dezembro de 1968, por volta das 6h, encerrando o plantão da madrugada, eu mesmo levei um tiro. Voltava à redação de Zero Hora, que, na época, ficava na rua Sete de Setembro.
O tiro não acertou-me e estilhaçou uma pastilha da fachada do prédio, a 20 centímetros da minha orelha esquerda. Nem me dei conta. Eu achei que tinha sido a descarga de um fusca marrom que passara na rua na hora em que eu abri a porta e desci. Pálido como um cadáver, o porteiro me deu a real. Soube, depois, que o autor do disparo era um capanga de um notório criminoso, cujo apelido era Mina Velha.
De outra feita, foi um molotov jogado embaixo do carro em que estávamos eu, o motorista Luismar e o fotógrafo Miro Soares. Saíamos do café da manhã, de uma lancheria na esquina da Uruguay com a Sete de Setembro. Deus ajuda o sortudo. Bem na hora, em que o coquetel incendiou, Luismar tinha ligado o motor e posto marcha a ré. Com o estrondo, ele largou a embreagem e o carro deu um pulo para trás. Vocês não têm ideia do que era cobrir a reportagem policial nas madrugadas da segunda metade dos anos 1960.
Teve o caso de uma espingarda calibre 12 na minha cara, mas essa já é outra história.