Qual é, bicho?
A gíria, os produtos e os costumes da época atual e a de décadas anteriores quase não têm mais laço de união. Na gíria, pelo menos duas expressões também são daqueles anos, e não invenção da gurizada de agora. “Meu”, que inicia qualquer conversa, já era usado no final dos anos 1950, incluindo a forma interrogativa “e aí, meu?”. A outra é “bicho”, do início dos anos 1960, criação da Jovem Guarda, do Roberto Carlos.
O perfume mais famoso da época era o caro Chanel Nº5. Foi feita uma magistral campanha de marketing para vendê-lo. Uma famosa atriz da época, Zsa Zsa Gabor, disse que não usava nada para dormir salvo uma gotinha do Chanel. As mulheres da classe média de então, muito mais poderosa que a de hoje, amarravam-se no Cabochard, lançado em 1959, enquanto os homens gostavam da loção Lancaster. Você ia a um cinema e toda a sala rescendia a Lancaster.
Como o vinho na visão dos entendidos, perfumes têm notas, subnotas e lá vai pedrada. Olhe só como ele é tecnicamente descrito: as notas de topo são aldeídos, especiarias, notas frutadas, assa-fétida, estragão, limão siciliano e sálvia; as notas de coração são raíz de orris, jasmim, ylang ylang (?), rosa e gerânio. As notas de fundo são couro, sândalo, âmbar, patchouli, almíscar, coco, musgo de carvalho, vetiver e tabaco.
Não sei se isso tudo cabe num nariz só.
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