Promessas de campanha
Campanha com comícios como antigamente não existe mais, porque a TV anódina usurpou a sagrada apresentação do candidato ao seu eleitor (ou não) praticamente olho no olho. Pois foi num desses eventos em bairro de Porto Alegre que um conhecido deputado federal forcejava por sua reeleição. A distinção tinha uma cabeleira crespa, o que aumentava ainda mais o volume. Puxou o microfone de haste para juto de si e deitou falação.
– Se eleito for, prometo que darei escola para todas as crianças pobres!
Lá do fundo, um sujeito visivelmente dominado pela cachaça falou com um grito com vozeirão batendo palmas.
– Já ganhou, Cabeleira!
O candidato não gostou, mas seguiu firme em sua peroração.
– Se eleito for, prometo dar casa própria para os pobres!
O mesmo borracho voltou a se manifestar.
– Muito bom, Cabeleira, já ganhou!
– Se eleito for, darei merenda escolar e lanches grátis para os operários das fábricas.
Lá veio o gambá de novo.
– Já ganhou, Cabeleira!
Incomodado, o candidato chutou o balde. Olhando para a figura balouçante, deu a estocada.
– Se eu for reeleito, dobrarei o preço da cachaça.
E lá do fundo veio a resposta em um átimo de segundo.
– Já bobeou, Cabeleira.
Para que conste nos autos: o deputado não se reelegeu.