Profissional de desarme
Fui a uma agência bancária, tirei a senha, sentei em uma das tantas cadeiras à disposição e esperei minha vez. Um rapaz de 20 e poucos anos, de boné, sentado duas filas adiante da minha vê um senhor de idade entrar. Cumprimenta-o efusivamente, eles falam em voz alta de coisas em comum, o senhor falou que ia pagar algumas contas. O rapaz se oferece para pagá-las. Uma velhinha sentada à minha frente abre o bocão.
– Mas o que é isso? Eu e outras pessoas esperando há horas para sermos atendidas e você se oferece para pagar as contas do seu amigo que chegou agora, isso é furar a fila! Mas que falta de respeito, seu moleque!
O idoso fica vermelho, tartamudeia algumas palavras que ninguém entendeu, depois ficou quieto. A velhinha seguia vociferando. Foi aí que eu vi o que é um profissional de desarme em ação. Durante todo o discurso da velha, o prestimoso rapaz não alterou sua fisionomia e posição. Ficou olhando para ela, na diagonal. Entre uma respirada e outra, ele gentilmente pergunta que sotaque era aquele que ela tinha.
– Minha família é da Sicília, fique sabendo!
O rapaz arregala os olhos.
– Nossa, que bacana! Palermo, a senhora conhece Palermo?
A velhinha baixa a voz um pouco.
– Claro que conheço. Estivemos lá muitas vezes, por sinal…
O guri segue amaciando o bife.
– Eu acho a Itália tão bonita, a Sicília também. Não tenho recursos pra ir lá, mas gostaria muito.
Ela murmura alguma coisa, algo como “que pena, o senhor ia gostar muito”, por aí. Para encurtar o causo, em minutos os dois conversavam animada e alegremente sobre viagens e a velhinha contando até sobre seus parentes sicilianos. Nisso chegou a vez dela ir aos caixas. Ao sair, despediu-se alegremente de um dos maiores caras de pau que vi na minha vida.
– Tchauzinho, meu rapaz, cuide-se bem e fica com Deus.