Primeiro ato
A bagunça do frete em dobro pela nova Lei do Frete foi por mim abordada na PG.3 do Jornal do Comércio, na edição de terça-feira. Publiquei sozinho. Não dá para dimensionar a confusão criada. Um caminhoneiro avulso recebe R$ 90,00 por tonelada para ir de Sarandi, norte do RS, ao porto de Rio Grande. Na volta, transporta para sua região fertilizantes e outros insumos, percebia por tonelada R$ 50,00. Então veio a greve.
Segundo ato
E com ela veio a revisão do frete mínimo, anotei na página Começo de Conversa. Para ir da mesma cidade ao porto, a tonelada custava R$ 138,00 e para levar os mesmos insumos teria que receber iguais R$ 138,00. Resultado: aumento de quase 100%, que nenhuma empresa aceitava pagar, ninguém contratava ninguém e toda a comercialização parou, especialmente da soja – e são milhões de toneladas.
Terceiro ato
Mais atrapalhado do que cusco em tiroteio, o governo diz que houve erro na hora da publicação, que veria isso com a ANTT, órgão regulador e responsável pela publicação no Diário Oficial. Não foi culpa dele, foi da lei malfeita. Agora, estão correndo atrás do prejuízo.
Último ato
Não tem. No Brasil nunca tem último ato. Sempre aparecerá alguma coisa que necessite de remendos ou de no diploma legal. Parece mentira, mas Brasília não tem burocratas que enxerguem esses erros e avisem o chefe. Ou viram e advertiram, mas só encontraram ouvidos moucos.
Debate, frio ou quente
O debate entre candidatos, por si só, não define a posição do eleitor de quem o assiste. Dissecado pela imprensa, fracionado em alguns pontos pelas emissoras de TV, pode sim induzir o voto. Na televisão e rádio, temos aquele velho problema que a palavra entra por um ouvido e sai pelo outro, enquanto a palavra impressa fica e pode ser convenientemente digerida.
Tradução da informação
Ocorre que nós podemos, sim, induzir e canalizar o voto do eleitorado. Quando os colunistas dizem que fulano de tal foi um desastre no debate, o leitor já torce as orelhas, a não ser o que já definiu seu voto há muito tempo, o fiel partidário. Quando vários colunistas e o noticiário político dizem, mesmo que com outras palavras, que fulano foi mal na pugna, o trocar de orelhas se transforma em convicção ou perto dela. Por si só, esclareço, a mídia não muda voto, mas, em caso de dúvida, dá um empurrãozinho.
Na reta final
Por isso que só na reta final os debates tem mais audiência. Ninguém tem saco para ver a enxurrada diária de debates em todas as plataformas, a não ser os fiéis militantes de voto já decidido. O caçador de candidato, então, precisa da radiografia do que foi discutido. Ou não dá pelota, a julgar pelo número de televisores desligados.
Os espetos de sempre
Ah, mas comigo não funciona, dirá você. Para quem é do grande diretório nacional do deputado Magalhães Pinto, a pequena parcela da população que sabe das coisas, verdade. Mas quem diz que a população em sua maioria sabe das coisas. Sejamos honestos, não sabe. Por isso é presa fácil para populistas e demagogos.
Jornal do Comércio
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