Poetas do Grenal

20 jan • Caso do Dia, NotasNenhum comentário em Poetas do Grenal

Tudo no Rio Grande do Sul é grenalizado. Não só no futebol, mas na política, na gastronomia, em qualquer manifestação cultural. Até que demorou para alguém fazer travessura com estátuas de monstros sagrados. Carlos Drummond e Andrade e Mário Quintana ganharam cobertura capilar de uma moradora de rua. Livres de UV, provisoriamente.

 

banrisul

UM EXÉRCITO NAS RUAS

Não sei se é geral, mas nunca vi tanto pedinte nas ruas de Porto Alegre. Como é sabido, muitos moradores de rua fizeram a opção. Desistiram. A sobrevivência depende da boa vontade dos passantes. Parte tem problemas de alcoolismo, então tudo fica mais difícil. Não estou negando a tragédia, mas há muito espertinho no meio dos que estão realmente – e literalmente – em petição de miséria. Então pedem comida ou dinheiro. Não lembro de alguém pedir roupa, mesmo no duto inverno.

DO ATESTADO AO LEITE

Alguns mostram atestados médicos, receitas de medicamentos antigos, e uma parte pequena diz que ele espera até você comprar o que ele precisa na farmácia, às vezes leite ou fraldas. Em tese, essa gente não vai desviar recursos para fins menos nobres, digamos assim. O caso é que não condeno os bêbados. Pensa bem. Na pior merda do mundo, com doenças, por que o sujeito não pode alterar a consciência e ter pelo menos algum tempo de euforia, artificial, mas euforia?

O que acontece tem a ver com o avanço tecnológico. Quase todas as pessoas não levam mais dinheiro no bolso, é tudo com cartão. Daí porque quando dão esmola dão só trocados em moedas.

UM PAÍS DE PELADOS

Aí por novembro escrevi aqui e no Jornal do Comércio que a reativação da economia só se daria se o povo tivesse renda, até para pagar as contas. Essa é uma variável que não dá para controlar. É da índole de povos sem educação financeira gastar mais do que ganha. Mas o fulcro da questão é que ganhamos pouco. Imagine alguém que perceba R$ 8 mil mensais. Não é de se jogar fora, certo? O IBGE até classifica quem tem essa renda mensal como sendo da classe média, uma coisa absurda porque insinua que é mais que a maioria da população ganha. É a cultura de nivelar por baixo.

É BOM, MAS É RUIM

Muito bem, oito quilos de alcatra por mês, é um bom salário. Mas transforme os reais em dólares e o resultado é óbvio: você ganha US$ 2 mil mensais, e isso o deixaria tão distante de fazer parte da classe média quanto o monte Everest. Então, ganhamos muito mal, essa é a tragédia. Todo mundo fala na distribuição de renda e sugerem que os mais ricos sejam taxados, muito mais taxados. Por acaso isso melhora a sua renda?

NA MARRA

Volta e meia dizemos que os jogadores de futebol ganham demais, é um absurdo ganhar salários como 300 ou 600 mil reais. Tem até quem sugira que jogador de futebol não deve ganhar mais que 80 ou 100 mil, teto estabelecido por lei. Perceberam o nivelamento por baixo?  Não é o ganho deles que precisa aumentar, o dos outros precisa diminuir.

DAÍ QUE…

…somos um país de invejosos. E se o Brasil tem 200 milhões ou mais treinadores de futebol, tem outro tanto de salvadores da pátria. Somos os maiores especialistas nessa matéria. Não sei porque o miserável país africano Burkina Faso ainda não nos contratou.

O PEIXE QUE ABRE A BOCA

Um dos primeiros provérbios que guardei desde cedo foi “o peixe morre pela boca”. Evidentemente, a frase foi cunhada antes da invenção da tarrafa e da rede. Mas é atualíssimo, não é mesmo ex-Secretário Roberto Alvim? O governo do Capitão tem vocação para fraseados desastrosos. Este último foi pior que a soma dos anteriores. A prole do presidente e ele próprio cometeram vários e, nos últimos tempos, parece que aprenderam a lição. Ou estão em recesso.

OS MALDITOS

Hitler e Goebbels são malditos por justa causa. Stalin e Mao Tse Tung também deveriam ser. Mas não são, por motivos conhecidos. Foram é mal compreendidos.

QUEM FOI QUE

Agora precisa explicar para os analfabetos funcionais deste país quem foi e o que fez Joseph Goebbels. Eventualmente, também para os alfabetizados.

DE BOCAS ABERTAS E FECHADAS

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

(José Saramago)

PENSAMENTO DO DIAS

Um improviso musical malfeito nada mais é que um instrumento à procura de uma melodia.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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