Inimigo meu
Tenho notado que o número de pessoas que falam sozinhas nas ruas vem aumentando nos últimos anos NÃO só falam como discutem com elas mesmas, às vezes acaloradamente. Só falta brigarem a socos.
Pois eu já vi algo assim. Nos tempos dos bar-chopes, por vezes, um conhecido meu tinha por hábito sentar sozinho numa mesa do Bar Pelotense, na rua Riachuelo. Recusava qualquer convite de convívio e se alguém insistisse, Mr. Hide vinha a galope. Tirando os momentos de fúria, o Dr. Jekyll reinava em paz. Até começar a beber chope.
No primeiro, começava a falar sozinho com leves traços de sorriso no rosto; no segundo, o sorriso desaparecia; no terceiro, o tom da voz aumentava e dava para perceber que ele travava uma discussão; chopes adiante, ele soerguia o troco, falava asperamente apontando o dedo para um rosto que só ele via. Chamava o garçom e pagava a conta, incluindo um último chope.
Faltando apenas alguns goles para esvaziar o copo de 310 ml, o Inimigo Conhecido do Inimigo Desconhecido levantava de chofre, falava alguns palavrões dizendo “tú é um grande filha da puta!” e variações, e em seguida ia embora, derrubando a cadeira por vezes.
Vá saber porque os dois brigaram.