Perón e os gays

23 maio • A Vida como ela foiNenhum comentário em Perón e os gays

   Na edição de ontem, contei como os gays brasileiros migraram para Buenos Aires no final da década de 1940 e como, pouco tempo depois, passaram a sofrer hostilidades quando Juan Domingos Perón assumiu o poder. Entre os que tiveram que voltar ao Brasil estava o carnavalesco Evandro de Castro Lima, que aterrissou em Porto Alegre e montou um show que se apresentava na American Boate, que teve seu tempo de glória até meados dos anos 1960.

Problema logístico

   Um parêntese. Antes do advento dos jatos comerciais, quase todos os shows de alta qualidade, peças de teatro e companhias de dança, que tinham como destino Buenos Aires, faziam um show pelo menos em Porto Alegre. Isso se devia porque os aviões com motores a pistão não tinham autonomia para cumprir a rota Rio-Buenos Aires ou mesmo São Paulo-Buenos Aires. Então eles tinham que descer em Porto Alegre para reabastecer, e aproveitavam o pernoite para se exibir aqui.

Mais que um cabaré

   O ou a American Boate era um degrau acima de um simples cabaré. Ficava na rua Voluntários da Pátria, pouco além da Santo Antônio, à direita quem vai no sentido Centro-Bairro. Era um palacete bonito, com um chafariz na frente. Certa feita, um parente que viveu o esplendor dos anos 1950, contou-me que havia uma turma de advogados de nomeada, pecuaristas, boêmios e tipos diversos que cumpriam uma rotina a cada vez que iam para a casa: tinham que dar a volta com os pés descalços na escorregadia na alta beirada do chafariz sem cair na água.

O chafariz assassino

   Um próspero homem das comunicações – não é quem vocês estão pensando – queria entrar nessa turma de arromba. Mas não tinha exatamente o perfil pândego que era comum na turma. Como teste de entrada, diziam que só seria admitido se desse a volta na beirada do chafariz sem sapatos, meias sem cair.

The end

   Se ele conseguiu? Esse meu parente emprestado resumiu assim o teste.

   – O doutor caía sempre. Nunca conseguiu entrar na roda. O American Boate morreu lentamente com os novos tempos. Lembro que o chafariz ainda resistiu por anos, quando restava apenas a fachada da boate, depois sede de uma loja de materiais de construção a céu aberto. Que triste fim.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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