O estouro das bolhas
Há uns bons 12 anos, comprei um tênis Olympikus para usar na academia numa loja perto de Três Coroas. Posso dar o nome porque eles me serviram fielmente durante todo esse tempo sem reclamar e sem estragar caminhando seis quilômetros dia sim, dia não, na esteira do União. Como a teacher da sala de musculação começou a olhá-los de revesgueia, achei que estava na hora de trocá-los. Eles deviam morrer com dignidade. Como conheço bem meus tênis, vi que ficaram sentidos. Mas não falaram nada.
Fui mal. Comprei um desses modernosos sugeridos por um vendedor e, no primeiro dia de uso, na segunda-feira passada, mal cheguei aos 50 minutos de caminhada e tive que parar por causa da dor. Como seres humanos não têm câmara de ré, pedi para uma colega olhar meus calcanhares ardentes.
– Você tem duas bolhas enormes – assustou-se ela. – E bota enormes nisso!
Quando cheguei em casa fiz acrobacias corpóreas para olhar para as tais bolhas. Levei um susto. Côdeloco, seu! Uma era grande como a bolha imobiliária e a outra maior que a bolha imobiliária. Estourei as duas. Amanhã mesmo me ajoelharei na frente deles – um joelho por vez – e pedirei perdão. Como prova do meu arrependimento, eles ganharão de presente cadarços novinhos em folha.