Pânico do militante
Como é ruim não ser preso. Idos de 1969. Após o AI-5, o Dops efetuou uma série de prisões de jornalistas engajados na esquerda. Um deles, brizolista de quatro costados e muito conhecido, esperou a sua vez. Avisou a família e o advogado do partido. Passaram-se os dias, todos os seus amigos e conhecidos foram chamados e ele nada. Cada vez mais nervoso, decidiu não esperar e se apresentou ao Dops. Deu seu nome. Um policial conferiu a lista de pedidos.
– Olhe, aqui nada consta.
Estupefato, porque sua militância era escancarada, pediu que checassem de novo.
– Nada consta.
– Como nada consta? – explodiu ele.
– Estou lhe dizendo que o seu nome não está na lista – respondeu irritado o policial. – Se manda!
– Olha deve ter um engano. Quem sabe…olha, não está na carteira de identidade, mas quem sabe faltou conferir com o sobrenome da minha mãe?
Quase que o policial o prende por desacato. Mas na dúvida, conferiu a lista de novo com este detalhe. Nada. E mandou o jornalista embora. Este passou da indignação para o desespero. Como que ele não seria preso pelo Dops? O que diria aos colegas? Pior, os companheiros de luta poderiam desconfiar que não fora preso porque dedou a turma toda e se safou.
Dormiu muito mal naquela noite. Imagina, um cara como ele não ser preso pela polícia política!