O milênio do medo
Quando a pandemia ainda era epidemia, o medo se instalou entre nós. Era um inimigo externo a ser enfrentado ao melhor estilo brasileiro, bater em retirada com pouca munição. Mas confiávamos na fake news que Deus é brasileiro, seguido de “mas eles logo vão descobrir um remédio e depois uma vacina”.
Nem uma, nem outra. “Eles” seriam os laboratórios farmacêuticos e o único remédio que apareceu foi a hidroxicloroquina, e mesmo assim mergulhado em dúvidas. Também havia o vermífugo, com o princípio ativo ivermectina, que sabidamente é um derrubador de vírus tão logo dê as caras. Mas como não era novidade e era abundante no mercado, morreu na casca.
Imagem: Freepik
COMPROVAÇÃO SEM COMPROVAÇÃO
A frase mais repetida nestes tempos é “sem comprovação científica” ou similar. De cara, reduzem a sugestão a pó de traque, mesmo que seja o efeito calmante do capim cidreira ou do chá de camomila. Não foi inventado por eles, não presta. E até faz mal.
A ERA DA BRILHATURA
O passo seguinte foi a guerra da brilhatura. Essa é mais nacional, embora possa ser guerra mundial também. Faz parte do ser humano especializado. Tudo pelos 15 minutos de fama. Dá a impressão de zumbis muito vivos escalando os muros da cidade sitiada.
No tempo das frases de para-choques de caminhão, havia uma inesquecível: Pra que orgulho, se a terra come?
A ERA DA DIVERGÊNCIA
O passo seguinte foi a instalação de medidas protetivas. Não pode isso ou aquilo, mas especialistas divergiam dos governadores e estes divergiam dos prefeitos, que divergiam dos médicos, que divergiam dos promotores, que divergiam dos juízes e tudo vice -versa.
E vocês ainda duvidam que estamos vivendo uma nova edição da Torre de Babel revista e ampliada?
A ERA DO MEDO CONSENTIDO
Temos medo do vírus e que faz a humanidade? Gosta de sentir mais medo ainda vendo filmes sobre vírus. Até hoje não encontrei nenhum médico de cabeça que me explicasse essa estranha contradição, que não é de agora.