A vingança do garçom
O falecido jornalista Danilo Ucha criou o concurso de Melhor Garçom em seu poderoso rotativo A Noite, publicação que se dedicava a comes & bebes entre outras variedades. Na época, sugeri a ele que criasse o concurso Pior Garçom. Ele achou graça, mas obviamente não quis pegar esse pião na unha. Quem de nós não teria o seu, o melhor e o pior? Dentro desta última classificação há subespécies, no estilo Meu Chato Preferido.
Mas não vou falar dos piores. Prefiro citar garçons inesquecíveis, não necessariamente bons e não necessariamente ruins. Houve um no excelente Bob’s Bar, na Cristóvão Colombo, 36, perto da Barros Cassal, que era uma parada. Ele simplesmente detestava o Campari, e de tal forma que não podia nem ver um freguês pedir a bebida. Meu falecido Cunhado Antônio José foi uma vítima. Sentamos e o Zeco pediu um Campari.
– Campari? Mas pelo amor de Deus, doutor! Como pode o senhor beber essa coisa nojenta?
E revirava os olhos, a boca fazia trejeitos de repulsa. Meu cunhado ficou olhando para ele por um bom tempo, não acreditando no que ouvia.
– Bebo e gosto dessa coisa nojenta. Me traz o Campari, com pouco gelo.
O da bandeja ergueu as mãos para o céu. Voltou à carga.
– O doutor tem certeza? Não quer beber um bom uísque, não? Rum? Também não? Conhaque? Puxa, desisto. Vou providenciar essa sua gosma vermelha.
Voltou com um copo cheio até a borda de gelo, acrescido de leves traços de Campari. Foi sua derradeira vingança.