• O guardião do tempo

    Publicado por: • 26 fev • Publicado em: A Vida como ela foi

     A transição dos cabarés de Porto Alegre para as casas noturnas ou casas de garotas de programa começou em meados dos anos 1970, e a pioneira no novo estilo do negócio sexo chamava-se Soninha. Nos cabarés, havia espaço para dançar, de rosto colado, bolerões, tangos, músicas de dor-de-cotovelo na pequena pista que cada cabaré tinha. A novas casas eram na base do vapt-vupt, não tinham nada de envolvimento romântico. As garotas atropelavam os fregueses.

     A Soninha ficava entre o Morro Santa Teresa e o Cristal. Como falei acima, o tempo era dinheiro e quanto mais rápido fosse o programa melhor para a garota e para a casa. Se o freguês quisesse ficar mais de uma hora o preço ia às alturas. Como eram poucos os motéis na época, os quartos ficavam na casa mesmo, geralmente, moradias antigas de alto padrão com muito espaço. O tempo “normal” era – e ainda é – de uma hora. Duas horas entrava a bandeira 2.

     A própria Soninha fiscalizava o tempo, tolerava poucos minutos depois de uma hora. A fila anda, se é que vocês me entendem, e sai da frente porque atrás vem gente. Excedidos os 60 minutos, que se chamava de programa, a dona do bordel passava pelas portas fechadas dos quartos tenho na mão um desse brinquedos de borracha para nenês; quando apertados, emitiam um assobio fininho tipo “fiiiii!”. Era o aviso de tempo esgotado.

     Essa tecnologia, o “fiiii!” emitido por um inocente brinquedo era o guardião do tempo das sessões de sexo.

     Imagem: Freepik

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  • Quando eu morrer, me bebam; se eu for cremado, me cheirem.

    • Paulo Motta •

  • Notas

    Publicado por: • 26 fev • Publicado em: Notas

    Corrupção light

     Corrupção sempre existiu, diz o coral dos analistas para justificar os tempos modernos, em que esse mal chegou no Brasil e fez um arranha-céu. De fato, existia em décadas e até séculos anteriores, mas nunca chegou a esse descalabro. Os que se arrumavam levavam um bom tempo para amealhar mal havidos. Comissões de dezenas e até centenas de milhões de reais contavam-se nos dedos.

    imagem ilustra a corrupção no Brasil em notas na coluna de Fernando Albrecht

    A escala

     Era coisa de 5%, 10% e olhe lá. Os que cobravam 10% viravam celebridades. Conheci um bancário graduado que era chamado de fulano de tal “dez por cento”. Raramente pegavam o cabra com a boca na botija. E quase nunca dava Polícia, portanto cana só em casos excepcionais. Incomodava era a reputação, mas só para iniciantes. Os corruptos mais calejados não estavam nem aí para a fama.

    Técnica de compra

     Mas o que mudava mesmo era o status do corrompido. Nos anos 1970, quando o mercado imobiliário deu um salto espetacular graças à irrigação de dinheiro do BNH, não se mirava em diretores, gerentes ou alguém mais graduado, não senhor. Um paulista quatrocentão que era dono de uma empresa de crédito imobiliário me contou que as grandes construtoras gastavam pouquíssimo comprando informações sobre futuras licitações de grandes obras.

    A cesta do pobre

     Sabem quem? Mandavam uma cesta de natal luxuosa no que hoje seriam coisa de R$ 15 ou 20 mil para apenas duas pessoas: secretária da diretoria ou departamento de licitações – claro que a maioria era honesta – e o boy, que tirava as cópias xerox de todos os documentos emanados pela direção. Tudo em uma empresa passava pela máquina xerox. O boy ganhava uma titica, uma cestinha básica com latinha de patê, vinho de Jundiaí, vermute doce, um panetone e algumas barrinhas de chocolate.

     Latinha de patê. O capital sempre pagou mal.

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  • Especialista em arrependimento

    Publicado por: • 23 fev • Publicado em: Caso do Dia

     Já cansei de ler matérias e artigos de especialistas em RH sobre as profissões do futuro. A maioria converge em trabalhos específicos, como na área de computação, TI e empregos correlatos. Sei que os executivos não serão mais escolhidos apenas pela expertise no seu ramo, mas deverão ter conhecimentos sobre vários outros assuntos que cercam não só atividade em que ele exerce esse cargo, mas em outras e no sentido abrangente.

     Também sei que cuidadores de idosos serão cada vez mais solicitados, e que deverão ser craques em manejo destas pessoas, incluindo algum conhecimento médico para emergências. Cá entre nós, no popular vão ter que ter – e já têm hoje – muita paciência. Saco, no popular.

     É uma coisa que jamais saberia saber, cuidar de idosos e de crianças ou levar vários cachorros para passear ao mesmo tempo. Bem, essa é outra profissão com belo futuro. Imagino que teremos até jacarés de estimação.

     Mas ninguém fala é numa nova profissão que vai render os tubos: especialistas em remover tatuagens, especialmente de mulheres. É só esperar um pouco mais. Pricipalmente para as mulheres que mandaram tatuar o nome do namorado ou marido.

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  • Boneca cobiçada

    Publicado por: • 23 fev • Publicado em: A Vida como ela foi

     Lançado em 1957, o então chamado bolero caipira com esse nome fez enorme sucesso. Os autores foram a dupla Biá e Bolinha. Que nome maravilhoso. Repitam: Biá e Bolinha, a dupla BeBê. Seria a abreviatura dos dois se, naquele tempo, houvesse marketing como temos hoje. Fato é que bolero se enquadrava mais no estilo dor de cotovelo nos centros urbanos.

     Boneca Cobiçada era perfeito. Era tão ruim que era bom. Como os filmes de Teixeirinha, eram considerados ruins pelos críticos e hoje são considerados cult. Pé na jaca todo mundo mete, em algum ponto da vida, seja no gosto musical ou na comida. Feijão com massa já foi brega, mas graças ao Rogério Mendelski hoje é boia-cult.

     Esse conceito de “é tão ruim que é bom” é ótimo. Tenho algumas preferências musicais que cabem como uma luva nele. Eu e meu filho curtimos muito uma cantora do interior do RS que canta temas mais bregas que pinguim na geladeira ou gostar da Anitta ou da “astra” Pablo Vitar. O marido, metade do tamanho dela, é o tecladista. Ela é só no gogó.

    Voltemos à boneca. A última estrofe é um primor de chifre embutido para sempre no frontispício do azarado que levou chapéu de vaca.

     Boneca cobiçada
     Das noites de sereno
     Seu corpo não tem dono
     Seus lábios tem veneno
     Se queres que eu sofra
     É grande o seu engano
     Pois olha nos meus olhos
     Vê que não estou chorando. 

     Confira esta música na voz de Carlos Galhardo no https://www.youtube.com/watch?v=c4bMNzngB5M

     

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