O guardião do tempo
A transição dos cabarés de Porto Alegre para as casas noturnas ou casas de garotas de programa começou em meados dos anos 1970, e a pioneira no novo estilo do negócio sexo chamava-se Soninha. Nos cabarés, havia espaço para dançar, de rosto colado, bolerões, tangos, músicas de dor-de-cotovelo na pequena pista que cada cabaré tinha. A novas casas eram na base do vapt-vupt, não tinham nada de envolvimento romântico. As garotas atropelavam os fregueses.
A Soninha ficava entre o Morro Santa Teresa e o Cristal. Como falei acima, o tempo era dinheiro e quanto mais rápido fosse o programa melhor para a garota e para a casa. Se o freguês quisesse ficar mais de uma hora o preço ia às alturas. Como eram poucos os motéis na época, os quartos ficavam na casa mesmo, geralmente, moradias antigas de alto padrão com muito espaço. O tempo “normal” era – e ainda é – de uma hora. Duas horas entrava a bandeira 2.
A própria Soninha fiscalizava o tempo, tolerava poucos minutos depois de uma hora. A fila anda, se é que vocês me entendem, e sai da frente porque atrás vem gente. Excedidos os 60 minutos, que se chamava de programa, a dona do bordel passava pelas portas fechadas dos quartos tenho na mão um desse brinquedos de borracha para nenês; quando apertados, emitiam um assobio fininho tipo “fiiiii!”. Era o aviso de tempo esgotado.
Essa tecnologia, o “fiiii!” emitido por um inocente brinquedo era o guardião do tempo das sessões de sexo.
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