• O barulho do pum

    Publicado por: • 20 mar • Publicado em: Caso do Dia

        Bastou o título de uma matéria de Zero Hora para despertar meu instinto assassino: por que alguns puns fazem barulho e outros não? Ó cruel dúvida da humanidade, que coisa mais transcendental.

       Vejamos a razão. O automóvel foi uma invenção calcada no corpo humano. O.motor é o coração. Rodas  são os pés e mãos. Os pneus são os calçados. Dentro de alguns bilhões de anos, os automóveis andarão eretos como nós. O combustível e o óleo são água e comida. Às vezes, literalmente.

       Como todo corpo humano, os automóveis também têm de ter um cabo de descarga, que, dependo da potência do motor, podem gerar barulhos maiores ou imperceptíveis. Na parte final, o cabo de descarga é reto. Como nós temos o nosso.

        Há outros motivos, mas estes bastam. Dito isso vou encerrar a questão antes que a turma do BBB seja pautada ou, pior, caia no exame do Enem.

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  • Fernando Albrecht e a propaganda

    Publicado por: • 20 mar • Publicado em: A Vida como ela foi

    A Vida como Ela Foi de hoje é contada pelo publicitário João Firme: 

        Falar de um colega do bem, tão bom profissional como Fernando Albrecht, não é fácil. Fui seu leitor em outro veículo e continuo sendo no Jornal do Comércio, assíduo. Viajava muito para atendimento de clientes do interior e inúmeras boas contas em Porto Alegre. Eu era seu confidente em informações da nossa economia, para quem sempre gostei de trabalhar com a propaganda.

        Encontrava-me com ele aos domingos, depois de minha missa das 9h30min, na Pompéia, que era perto do apartamento dele e do meu, na Comendador Coruja. Nosso assunto era a notícia com exclusividade. Ele não escrevia “releases”, e muitos que enviaram pelo departamento de imprensa da Arauto Publicidade foram para o lixo. Dava a informação que a economia queria, sem prejudicar a propaganda, que é o maior investimento para vender.

        Lembro de um dia quando cheguei no Liliput, com um quarto de ovelha que havia ganho de um fazendeiro, parente da minha esposa, de Alegrete. Fui buscar o presente naquele domingo, às 6h30min, na rodoviária. Veio em mãos pelo motorista. Encontrei o meu colega da ARI e da Comissão de Ética, Sergio da Costa Franco, também esperando um “saco” de ovelhas de um estancieiro de Quaraí. Este tinha gostado do artigo ”descendo a lenha” na censura prévia imposta ao Jornal do Brasil, Rádio Gaúcha, Veja e um jornal de Novo Hamburgo.

        O Fernandinho ficou sabendo da história no meu livro, quando o Sergio declarou que nós dois poderíamos ser investigados como abigeatários, condenando-nos pela atitude. Nunca mais aceitei presentes proibidos.

       Certa vez, me envolvi com a Polícia Federal por deter dois pilotos de um jatinho paraguaio, oito jornalistas do ABC Color que, chefiados pelo genro do marechal Stroner, vieram participar do Festival de Publicidade de Gramado em 1985, quando Otávio Gadret foi patrono e o Germano Rigotto inaugurou o evento com a Dona Ione Sirotsky.

       Os policiais acharam pedante o homem de branco, que tirava baforadas de charutos na verificação das malas e estava alcoolizado. Desconfiaram de uma harpa que era presente para o cônsul Paraguaio. Acharam que ali tinha “marijoana” e estavam pensando em abrir o grande instrumento de cordas. Pedi para falar com o superintendente da PF no Aeroporto, usando minha carteira da OAB. Permitiram-me a entrada. Fui logo dizendo que eram meus convidados para o Festival de Publicidade e ouvi a história do porquê da demora na liberação.

       Fiz uma proposta com argumentos, aceita na hora: “Libere os pilotos e os jornalistas, não abram a harpa. O cônsul está no aguardo, muito nervoso. Me ponha ao telefone com o Superintendente Federal, caso contrário vou pedir socorro já para a OAB”. Falei com sustentação oral que nada tínhamos a ver com os turistas que entram legalmente e estejam embriagados.

       Minha tese foi aceita e, para surpresa, na hora da homenagem como o jornal que mais divulgou o Festival de Publicidade no Paraguai, na feijoada oferecida pelo Patrono Otávio Gadret, fui chamado ao palco e ganhei a harpa com a justificativa do presidente do ABC Color.

       O Fernando me surpreendeu ao historiar meu diálogo com a PF (não sei onde conseguiu as informações) e publicou o régio presente, a foto com a harpa que é mais alta que eu. Doei-a para uma escola de meninos músicos carentes de Caxias do Sul, mantida pelo Raul Randon, dando a informação do meu diálogo cordial com a Polícia Federal.

        Que maravilha de história, Fernandinho. Sei que você não bebe, mas quando eu for chamado, vou perguntar para São Pedro se é permitido uma taça por dia do vinho de Cristo, que aprendi a tomar como sacristão em Santa Rosa e depois com o Raul Randon (que está no céu feliz). Ele sempre me esperava nas reuniões, no final da tarde, com uma taça de tinto para saborearmos. Hoje minha neurologista e geriatra me receitam duas e continuo vivendo.

       Boa noite, companheiros e companheiras.

     

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  • Notas

    Publicado por: • 20 mar • Publicado em: Notas

    Aterro Sanitário

    As comemorações pelo Dia de São Patrício na Padre Chagas seguem repercutindo nas redes sociais. De um lado, a turba de devotos beberrões, do outro os cerceados moradores da região. Após a festa, fotos do lixo na rua, que mais parece um aterro sanitário, abundam. Todavia, o comentário de Ronaldo Farina, morador da região, dá um colorido ainda maior: “Pena as fotos não reproduzirem o cheiro e a quantidade de vidro pelo chão.”

    Foto: Ronaldo Farina

    Espanto

    O que espanta nessas festas de rua é que os promotores não dão a mínima aos moradores. Estão apenas interessados no seu faturamento. Sem considerar, no caso do Moinhos de Vento, que 61% dos moradores do bairro têm mais de 60 anos de idade.

    Sem Diálogo

    A propósito, esse caso ilustra bem o talento que os frequentadores do Facebook desenvolveram para polarizar qualquer discussão. Não há notícia minimamente polêmica que se leia que não contenha em algum momento a frase “o fato causou revolta nas redes sociais”. Nada mais hoje em dia consegue causar diálogo. Até o famigerado BBB virou debate político, repararam?

    Quanta diferença

    Nos antigamentes, este tipo de discussão era restrito ao, digamos, horário comercial. Uma vez findo o debate, íamos todos – direita e esquerda – para a mesa do bar confraternizar. Hoje, substituíram a ideia de rival pela de inimigo mortal.

    Função

    Nunca esquecerei uma frase dita por um jornalista veterano dos anos 70. A função do jornal é alarmar o povo, dizia ele. Posteriormente negou que a tivesse proferido, mas Inês já era morta. Mas é por aí. Melhor dizendo, também é por aí.

    Drones

    Acumulam-se os casos de drones colocando em risco as operações em aeroportos. Como aconteceu no Salgado Filho ontem. Escrevo sobre essa tragédia em potencial. Não é uma questão de se, é quando. Já tem mais drones no céu do que pulga em vira-latas de rua.

    Feito palhaços

    Foto: João Mattos

    Calçados à venda na calçada da Borges de Medeiros. No canto direito da imagem, vemos um grafite que mostra bem como os comerciantes devem se sentir diante da invasão de produtos irregulares nas ruas. É uma cena da Porto Alegre de março da graça de 2018.

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  • Diário de uma vida nova

    Publicado por: • 19 mar • Publicado em: Caso do Dia

    Dia 7, segunda-feira 19 de março.

     02:00

     A corrente

         Quero dizer que, se depender da torcida de milhares de amigos e leitores, já estou curado. Nossa! Eu não sabia que tinha tantos. Além disso, fiquei impressionado com a quantidade de pessoas que oram por mim, que irão a igrejas católicas e templos evangélicos, de umbandistas e religiões afro que me garantiram que vão convocar seus orixás e até para um rabino que fará uma oração especial para mim numa cerimônia judaica. Alguns vão a igrejas de santos como N.S. Caravaggio ou Santa Rita de Cássia para orar – e não ficam perto de onde elas moram.

         Celestialmente falando, sou o cara mais protegido do mundo. E o mais sortudo também.

    O pagamento

         Não sei como vou pagar toda essa corrente positiva, se terei as toneladas de gratidão e agradecimento necessários.

    Sobre maldições

    Estigma é coisa muito séria. Quando alguém é transplantado ou faz uma cirurgia qualquer não sofre do mesmo estigma quando é um câncer. No passado, havia duas palavras malditas: câncer e lepra (hanseníase). Câncer é sussurrado, como a simples menção do nome o atraísse. Mudou muito de lá para cá mas não mudou o bastante.

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  • A confissão

    Publicado por: • 19 mar • Publicado em: A Vida como ela foi

         Lembrei dos tempos de adolescência quando éramos obrigados a confessar nossos pecados ao padre, no confessionário, pelo menos uma vez por semana. Hoje você acumula milhas, naquele tempo, pecados. Ao que eu me lembre, a maior penitência que recebi foi rezar 100 Padres Nossos e 100 Aves Marias. Era como ser condenado a 50 anos de prisão.

         Mas antes de rezar tudo isso obtive a condicional. Antes de cumprir toda a pena, disse ao padre que tinha perdido a conta das rezas. Condescendente, ele me absolveu dos trocentos pecados mortais. O melhor é que, naquele tempo, não existia tornozeleira eletrônica.

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