• O dinheiro que se ganha dá para duas coisas: pagar as contas e comer.

    • F. A. •

  • A cobra

    Publicado por: • 11 out • Publicado em: A Vida como ela foi

    A tentativa de descolamento de Fernando Haddad de Lula lembra um caso ocorrido em 1964. Um ativo integrante do Sindicato dos Ferroviários do Vale do Caí, brizolista de quatro costados, foi detido e interrogado pelos militares. Perguntaram qual era a ligação com Leonel Brizola.

    – Nenhuma. Aliás, nem o conheço.

    – Como assim “não conheço”? – estranhou o interrogador.

    – Estou falando a verdade, não o conheço!

    Irritado, o militar mostrou uma foto enorme onde o sindicalista ao lado do ex-governador em um comício. Apontou o dedo para ele.

    – E esse quem é?

    – Não sei.

    – Esse é o Brizola! – vociferou o militar.

    – Ah, esse é o famoso Leonel Brizola? Nossa mãe! Fosse uma cobra tinha me mordido!

    Quando eu era repórter policial, no final da década de 1960, ainda havia a figura do Flagrante de Adultério, o que era muito raro porque a legislação da época exigia que testemunhas vissem o ato em cima do laço. Contava-se então que a melhor defesa para o Dom Juan era negar o acontecido com a maior veemência possível.

    Mais ou menos assim: pego em flagrante, tendo como testemunhas dois PMs, o amante negou o ato sexual com tamanha veemência que o Delegado ficou na dúvida, os PMs ficaram na dúvida, o marido ficou na dúvida, a mulher ficou na dúvida e, ao fim e ao cabo, até o amante se convenceu que dizia a verdade.

    Publicado por: Nenhum comentário em A cobra

  • O vinho da pipa

    Publicado por: • 10 out • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    O difícil para Jair Bolsonaro vai ser cativar eleitores que não gostam de violência sugerida, que faz parte da sua imagem, aquelas poses de imitar pistolas com as mãos. O difícil para Fernando Haddad vai ser tranquilizar o eleitor que não gosta do PT, que ele é vinho de outra pipa, mesmo sendo.

    Porteira aberta

    O difícil para o capitão será segurar o seu vice, o general Mourão, campeão em tocar em nervos expostos da população, e de rara competência em deixar a bola picando para especialistas em punçar frases fora do contexto. O difícil para Bolsonaro é passar para o eleitor que não votou nele no primeiro turno que não governará apenas com foco na criminalidade.

    Mudou, mas não mudou

    O difícil para Fernando Haddad é convencer o eleitorado que não votou nele que o PT dele não é o mesmo do MST, dos radicais como José Dirceu e do restante da linha dura do partido. Mais difícil ainda para ele será desencarnar de Lula, que não será um fantoche do ex-presidente. Problema: até aqui ele deu essa impressão. Não bastasse isso, a primeira visita que fez depois do resultado foi para o preso ilustre da PF de Curitiba.

    Com toda corda

    Como se segura uma onda como a do antipetismo acompanhada de uma volta conservadora? Ondas como essa não são apenas de vaivém, são movimentos pendulares. A esquerda já teve o seu pêndulo favorável durante duas décadas, agora ele vai para o outro lado com o mesmo ímpeto.

    Os sem-argumento

    Nós temos um problema, Brasil. Basta você citar algum membro influente do regime militar que soube antecipar o que viria depois deles que automaticamente você é jogado na vala comum como “fascista”. Como se o Bing Bang aconteceu no exato dia e hora em que Lula nasceu. Hoje vejo militantes dizendo que os militares foram apeados do poder pela força das massas. Rótulo é usado por quem não tem argumento.

    O primeirão

    Devagar com esse andor. Quem começou a sentir o cutuque e o fim do ciclo de exceção foi o presidente Ernesto Geisel ao procurar um sistema eleitoral com o voto distrital alemão. Então surgiu o ministro Golbery do Couto e Silva que lançou o bordão “abertura lenta, gradual e segura”, porque a linha dura militar não queria saber de voto direto.

    O pêndulo de Golbery

    Golbery deu uma entrevista famosa à revista Senhor, depois encampada pela IstoÉ. Dizia que o País seria o único a tentar essa abertura lenta, gradual e segura. Se desse certo, viva nós; “se não, iremos todos para o paredón, mas aí já estarei bem velhinho”. Mas ele acreditava que tinha chance de dar certo, desenvolvendo em seu livro a teoria do pêndulo.

    Os ciclos do general

    Na mesma entrevista, vaticinou que, após a abertura, viria um governo não-radical, pelo menos ainda não quando o pêndulo terminasse seu ciclo à direita. Em algum momento depois, viria um presidente de esquerda, o que aconteceu, mas, em seguida, a peça do relógio de parede se deslocaria para o lado oposto.

    E cá estamos nós

    O general gaúcho não foi além desse prognóstico, mas vença ou não, Jair Bolsonaro é o pêndulo que sobe para a direita depois do Lula à esquerda. Talvez tenha subido com força demais, o que explica Fernando Haddad no segundo turno e a onda antipetista do primeiro.

    Futuros médicos

    Inovação, gestão na área da saúde, empreendedorismo, investimentos financeiros e especialidades médicas. A mescla de temas poderá ser conferida no Talks Simers Núcleo Acadêmico. Com o tema Conexão, a programação é destinada a estudantes de Medicina, que terão a oportunidade de debater e obter conhecimentos que fazem a diferença na vida do futuro médico.

    Entre as atrações confirmadas, destaque para Vander Corteze, médico, empreendedor e fundador da startup Beep Saúde, especializada em desenvolver formatos de acesso a serviços da saúde. Promovido pelo Núcleo Acadêmico do Sindicato Médico do RS (Simers), o evento acontece nos dias 19 e 20 de outubro, na sede da Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil (ADVB/RS).

    Publicado por: Nenhum comentário em O vinho da pipa

  • O sorriso custa menos que a eletricidade e dá muito mais luz.

    • Provérbio Escocês •

  • Os contadores de votos

    Publicado por: • 10 out • Publicado em: A Vida como ela foi

    No final dos anos 1960, fui convocado para ser contador de votos. Que saco, pensei. E não é que eu estava certo? Vocês não têm ideia de como era feita a apuração, como o processo era cansativo e cheio de furos. Eu recém tinha entrado para a Zero Hora. Então, queria assassinar o cara que deu meu nome. Vilmo Medeiros, meu querido chefe de reportagem policial, foi chamado pelo TRE-RS e levou alguns subordinados para o mesmo inferno. Eu ente eles.

    A contagem se dava nos primeiros Armazéns do Cais do Porto, com amplos espaços divididos por placas de compensado. Era eleição para deputado estadual e federal e não lembro para que mais. A mim e meus asseclas coube a contagem para a Assembleia Legislativa. Funcionava assim: a chefia separava as cédulas e as distribuía. Duplas contavam os votos, um cantava e outro fazia aquela marcação antiga de risquinhos até completar cinco. Brancos e nulos já tinham sido separados.

    Além da rotina massacrante, tínhamos que aguentar os fiscais de partido, que, às vezes, pediam recontagem das cédulas e eram atendidos ou não pelo juiz. E meus colegas de outros jornais querendo saber detalhes como o texto dos votos anulados com palavrões, coisas assim. Havia uma pausa para o almoço, gente, oferecimento da Justiça Eleitoral.

    Foram três dias de martírio, das 8h da manhã até a hora de não aguentar mais. Litros de café me deixaram com tremedeira e insônia. Quando a apuração encerrou, os m’ partires ganhavam um dia de folga, com atestado que valia pontos, caso se fizesse concurso público.

    Simplesmente não consegui dormir. Minha futura sogra me deu um comprimido de Valium tamanho família, aquele de quilos e não de miligramas. Nem ele me ajudou a dormir. Eu parecia um zumbi na cama. Fui convocado pela segunda vez alguns anos depois, mas não lembro de muita coisa. Talvez meu cérebro tenha apagado a terrível experiência.

    Publicado por: Nenhum comentário em Os contadores de votos