• O Chevrolet divino

    Publicado por: • 26 dez • Publicado em: A Vida como ela foi

    Há décadas, um nativo de cidade do Vale do Caí deixou o torrão natal e foi procurar maneiras de vencer na vida. Encontra-a na forma de cerveja. Abriu uma fábrica no interior e se deu muito bem. Tão bem que presenteou a sua mulher, também nascida na sua região, com um belo Chevrolet Impala do ano. Reluzente e potente, uma maravilha.

    A senhora em questão contratou como motorista um amigo de infância. De tempos em tempos ela e o chaufer, como ela gostava de dizer -pronunciando a palavra francesa assim mesmo e não chofer -, voltava às suas origens visitando os parentes sentada no banco de trás com o melhor vestido que o dinheiro podia comprar.

    Ela gostava demais da combinação azul e branco, ainda mais quando voltava para a colônia onde nascera. Os vestidos daquela época eram longos, e bota longos e largos, e bota largos nisso, parecia a copada de uma figueira nativa. Por isso mesmo, ela sentava bem no meio do banco de trás do possante – adivinha a cor?

    Quando os colonos da região avistavam um rastro de poeira antes da missa de domingo já sabiam que era ela. Como o quadro estava pronto, o carro e ela com um vestido quase da largura do Chevrolet exclamava quase que em uníssono “Mutter Gottes”.

    Que vem a ser “Mãe de Deus” em português.

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  • Operação Lava Neve

    Publicado por: • 25 dez • Publicado em: Sem categoria

    Há muuuitos anos que o tal de Bom Velhinho me enche o saco em vez de esvaziar o dele. Fico até na dúvida se o cara da rena e do trenó existe, apesar do que dizem. Pode ser lenda urbana. Ou não. Vai quê. De repente, ele é de verdade e foi expulso da Lapônia. Alguma coisa a ver com leasing não pago das renas, imagino. E saiu na corrida porque nem trocou de roupa mais adequada para climas tropicais como o nosso. E como tem muita bala na agulha, quem sabe ele fez parte de alguma Operação Lava Neve no Círculo Polar Ártico.

    Também pode ter feito delação premiada. Entregou os colegas e a ponta do iceberg do mal havido lapônio, algumas dezenas de milhões de dólares que nem fazem cócegas na sua fortuna, escondida não em algum paraíso fiscal, mas debaixo do colchão ou enterrado no quintal do terreno da irmã da tia do porteiro do prédio onde mora uma prima dele. Ele comprou o imóvel há anos e botou no nome da avó, uma simples casa de subúrbio que nem para Minha Casa Minha Vida serve. Suponho que seus colegas brasileiros o tenham imitado.

    Agora, tem uma coisa. Se foi ele quem conseguiu que o ditador norte-coreano desistisse do arsenal nuclear e fizesse acordo com Donald Trupm, se de fato foi ele, meus respeitos. Porém, e sempre tem um, duvido que o baixinho de cabelo escovinha tenha de fato virado mocinho de uma hora para outra.

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  • Natal de cafeteria

    Publicado por: • 24 dez • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    A vida que se leva nem sempre é a que a gente deseja. Às vezes, o Natal é como o retratado na imagem. Um simples cafezinho, água de brinde, uma decoração natalina miniaturizada e a comanda da conta a pagar.

    Natal no presídio

    A cidade gaúcha de Lajeado sempre inova em matéria de presídios e tratamento dos apenados, medidas que vão desde a possibilidade de trabalhar para reduzir a pena até beneficiar as apenadas. Confira na matéria do link aqui.

    Retrato falado

    O jargão policial causa estranheza em algumas camadas da população, mas não deveria. Ao contrário do politiques, do economês e do juridiquês, ele é bem mais preciso. Por exemplo, vejam esta descrição de uma ocorrência.

    “A.C.C.S.J, masculino, 38 anos RG: XXXXXXXXXX, com procedimentos policiais em seu desfavor como roubo a estabelecimento comercial 3x, ameaça de morte com uso arma de fogo. (FORAGIDO)”

    Perceberam que é um retrato falado do meliante. Você forma na sua cabeça a imagem de um assaltante, jovem mas já perto dos 40, que já aprontou muitas, mereceu a cana, mas dela fugiu. Portanto reincidente, e que é perigoso porque usa arma e pode matar. “Procedimentos em seu desfavor” é um belo resumo.

    O prazer das palavras

    Como diz o professor doutor Cláudio Moreno. O povo usa às vezes expressões que são uma aula do bem expressar. Ela diz “fui roubada do meu relógio” em vez da fórmula mais simples. Transmite a dimensão desse ato violento, não foi um simples objeto, foi uma violência contra essa pessoa.

    A beleza das flores

    Cores_que_encantam_e_geram_renda_-_Foto_Carina_Venzo_CavalheiroTrabalhar com flores é estimulante e me dá prazer. Quem assim o diz é agricultora Delesia Schwengber, popularmente conhecida como Mara. Ela conta a realização em trabalhar com cultivo de flores. Delesia mora em Jardim do Sobrado, RS. O grupo tem o apoio técnico da Emater/RS – Ascar.

    Foto: Carina Venzo Cavalheiro

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  • Houve tempo em que frango assado era apenas uma posição, se me faço entender.

    • F. A. •

  • O meu pinheirinho

    Publicado por: • 24 dez • Publicado em: A Vida como ela foi

    O presente de Natal que eu queria não há Papai Noel que me traga. Eu quero de volta minha meninice em São Vendelino, o meu cantinho que eu chamava de felz (rocha), um remanso do arroio Forromeco. Eu queria de volta meu cachorrinho Tupi, meu querido companheiro nas horas alegres, das fantasias de safári, de explorador intrépido pele Curdistão bravio, meu amiguinho que lambia meu rosto com os olhos sorridentes, o que eu devolvia em afagos com juros e correção monetária.

    Quando eu chorava, refugiava-me na Rocha, a poucas dezenas de metros de uma represa artesanal construída por iniciativa do meu tio Sireno Selbach, onde eu e meus primos nos banhávamos. Minha linda represa que uma enchente levou há anos.

    Eu queria de volta meus brinquedos improvisados, o “revólver” feito com a raiz da mandioca que, nas minhas fantasias, tinha munição inesgotável. Eu queria de volta o moinho colonial onde eu comia farinha de trigo e arroz cru.

    Eu queria de volta as histórias de Natal contadas perto do pinheiro com presépio no pé, um espelho deitado e cercado por barba de pau fazendo as vezes de um laguinho. Eu queria de volta minha bicicletinha de três rodas, onde coloquei botões de armário à guisa de faróis. Eu queria de volta as rabanadas de pão de milho que minha mãe fazia, eu queria de volta meus amigos do Grupo Escolar, as brincadeiras feitas no potreiro lomba acima, ao lado da escola.

    Eu queria de volta a nossa casa, a venda do meu pai, a prensa de alfafa movida por um burro, o cheiro da terra molhada e o barulho da chuva caindo no zinco. Eu queria de volta até um lagarto que ficou meu amigo porque mansinho era e dele eu não tinha medo.

    Eu queria de volta minhas pitangueiras da ilha pequena formada por um braço do córrego que movia o moinho. Eu queria de volta meus pais e irmãos por quem eu ainda choro mesmo passados todos estes anos.

    Sobretudo, eu me queria de volta, mas é impossível. Eu desapareci.

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