Publicado por: Fernando Albrecht • 15 fev • Publicado em: Caso do Dia, Notas •
Na obra prima do italiano Dante Alighieri, a Divina Comédia, a entrada do Inferno é marcada pela inscrição “Vós que entrais, perdei toda a esperança” (Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate). É uma das frases mais impactantes de todos os tempos, e dá a dimensão do inferno. Quando li a Divina Comédia, ainda jovem, fiquei pensando se não seria mais saudável viver sem pecado para não correr esse risco. Devo dizer que a carne venceu, como sempre, desde que a humanidade é humanidade.
E se Dante fosse brasileiro e o Inferno também o fosse, como seria marcada a entrada do reino de Belzebu e seus forcados incandescentes, e com temperatura do forno digna de figurar no Guines de Recordes? Para ser brasileiro de fato teria que ser, no mínimo, como naquela velha piada em que nada funciona no inferno tupiniquim, gás cortado por falta de pagamento, o foguista-chefe estaria de licença-prêmio porque funcionário público – o Tinhoso tentaria uma PPP, Parceria Público-Privada, mas o passivo trabalhista seria tão grande que o P de Privado cairia de banda. Impasse.
Ao que interessa. O Inferno do Dante Brasileiro não teria a entrada marcada pelo dístico original. Em substituição, e dependendo das circunstâncias, haveria um luminoso patrocinado pela cerveja Skol sem álcool com os seguintes dizeres:
Vós que entrais, a chave está debaixo do capacho
Vós que entrais, não aceitamos cheques
Vós que entrais, o ar está desligado
Vós que entrais, sintam-se à vontade
Vós que entrais, pagai antes a conta do gás
Vós que entrais, recomende-nos aos amigos
Vós que entrais, visite nossa cozinha
Vós que entrais, não cobramos 10%
Vós que entrais, trazei um quilo de alimento não-perecível
Vós que entrais, digite 1 para SUS digite 2 para convênios
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