• A vaca que explodiu

    Publicado por: • 17 maio • Publicado em: A Vida como ela foi

    História ligeiramente estranha entreouvida na academia que frequento. Dono de padaria dava ao irmão, que morava em um sítio em Viamão, todo pão que sobrava e cuja venda era impraticável. O mano então dava quilos e mais quilos do pão para sua vaquinha leiteira, crente que seria, em termos nutricionais, melhor que pasto.

    Não era, contou a sobrinha dos manos. Um dia a vaca explodiu. Como assim, explodiu, perguntaram. O estômago dela explodiu, insistiu ela, foram ver quando abriram a pobre coitada. A legítima vaca-bomba, vejam só. Se o EI descobrir, que C4 ou Semtex que nada, os atentados serão mais baratos. É só ter um fundamentalista padeiro ruim de vendas.

    Quando ouvi o causo como o causo foi, pensei logo que era algo associado com o fato que bovinos ruminam, vai e volta do estômago. Conferi com minha filha Fabíola, Doutora em Veterinária. Sim, é possível, disse minha dileta, sem anestesia. A explicação é longa, mas resumindo, se “explodir” significa ruptura do rumen (compartimento onde ocorre a fermentação no sistema digestivo dos ruminantes), a vaca realmente foi para o brejo.

    Então, se um dia vocês virem uma vaca explodir o culpado não será o mordomo, será o padeiro.

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  • Porque hoje é sexta

    Publicado por: • 17 maio • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    O poema, na realidade, chama-se Porque Hoje é Sábado. É de Vinicius de Moraes. Mas não se fazem mais sábados como antigamente, então é hoje que a onça bebe água e jacaré nada de costas. Porque hoje é sexta, o escritor ou guru Olavo de Carvalho deu entrevista para o Estadão onde diz que vai deixar de “se meter” na política brasileira.

    – Eles querem me tirar da parada? Tiraram. Eu vou ficar quietinho agora, não me meto mais na política brasileira.

    Quem seriam eles?

    Aí é que está o busílis, em português castiço, ou o xis do problema. Quem teria dado um chega pra lá no doutor Olavo, que mora nos esteites? Seu discípulo Jair Bolsonaro, os militares que têm voz e poder no governo? A não ser que ele abra o jogo, ficaremos eternamente nessa cruel incerteza.

    Mas nem tanto

    Porque no finalzinho da entrevista Olavo diz que não vai se meter na política brasileira “provisoriamente”. Pronto. Não existem mais convicções e expressões precisas, tudo é provisório e, no Brasil de hoje, até o galo fica na dúvida se cantou no raiar do sol ou foi playback.

    A teoria do pêndulo

    Gosto muito dela porque é lei de vida e das coisas que governam a vida. Como a política, mais precisamente, o Poder. O ministro e general Golbery do Couto e Silva, que foi ministro nos idos dos anos 1970, escreveu um livro cujo nome é tão sem sensaboria que oculta o conteúdo, este sim de primeira grandeza como o croquete da falecida lanchonete Branquinha, de Tramandaí.

    Em resumo

    O general, odiado pela esquerda de todos os tempos, mas a quem deveriam agradecer porque foi ele que iniciou o processo de abertura democrática no finzinho dos anos 1970 – a “abertura lenta, gradual e segura”, previu que a era dos militares estava chegando ao fim, e que o pêndulo sairia da posição “alto da direita” para “alto da esquerda”.

    E assim por diante

    Golbery demonstrou e acertou que o oscilar do pêndulo rumo à outra ponta passaria pelo centro (Tancredo Neves, que morreu para sorte de José Sarney). Em um determinado momento, ele iria para o alto esquerdo e depois tenderia para a direita de novo. Veio o Lula, o lulismo, A Dilma e o dilmismo que terminou, como sabemos, no desastre brasileiro que nos deixou de calças arriadas e burras vazias e um dos autores a ver o sol nascer quadrado na prisão.

    À direita, de novo

    Foi a eleição do Capitão, mas não só dele. Veio uma guinada à direita em todo o continente – nem falo na Europa porque lá foi causado pelos imigrantes e terroristas – por um simples motivo: a tremenda incompetência administrativa dos regimes de esquerda. Vide Venezuela, se bem que lá é uma coisa. Nicolás Maduro deveria doar seu cérebro para a ciência para ver o que se passa na diminuta rede de neurônios bolivarianos.

    Centro, volver

    No ano que vem, teremos eleições para prefeitos e vereadores. Cada cidade é diferente no trato pendular, mas acredito que em Porto Alegre o fraco desempenho do tucano Nelson Marchezan Jr não deve ressuscitar o PT, o eleitor vai é buscar o centro.

    Tudo bem no ano que vem

    Pode – pode, porque tem muita água a passar debaixo do moinho – que o ex-vice-prefeito Sebastião Melo (PMDB) leve a coroa, posto que perdeu a eleição para Marchezan. E matéria de pêndulo, é Centro, volver. Talvez na sucessão de Bolsonaro aconteça o mesmo.

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  • Um cemitério lúbrico

    Publicado por: • 16 maio • Publicado em: A Vida como ela foi

    Imagem: Freepik

    Imagem: Freepik

    Porto Alegre sempre foi uma cidade que prezava as festas de casamento assim como os ingleses prezam a troca de guarda da Rainha. Hoje há oferta de espaços para festança após a cerimônia religiosa, mas no passado eram apenas os hotéis e, eventualmente, clubes sociais que as abrigavam. O mais famoso foi o Plazinha, o Plaza Porto Alegre, na rua Senhor dos Passos, Centro da Capital. Pena que hoje o hotel fechou e está à procura de um destino. O Hotel Deville Prime Porto Alegre é boa opção para a noite de núpcias.

    Bem, eu casei no Plazinha e fiz aquela fuga clássica rumo à Suíte Nupcial, que muito interiorano rico, mas de poucas luzes chamava de “suíte nepucial”, vê se pode. Tive que aguentar as piadas clássicas de duplo sentido, até que enfim sós. Dia seguinte, rumamos para a cidade serrana de Ana Rech, destino de muitos recém-casados.

    A procura pelo único hotel da cidade era tanta que, nos finais de semana, os quartos todos estavam reservados para nubentes. Havia grafitis no interior dos armários e gavetas com mensagens dos pombinhos com clássico coração atravessado por uma flecha. Sabem qual era o apelido do hotel? Cemitério das Virgens.

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  • Uma manhã de enlouquecer

    Publicado por: • 16 maio • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Acordei ontem de manhã com uma tristeza latente, inexplicável quase, algo assim como uma gravura que vi ainda criança, desenho tosco que nunca esquecerei. O professor o mostrou dizendo que era a expressão gráfica de “nostalgia”, um homem fechando as mãos em torno do fio de arame farpado. Fiquei fascinado pela explicação, até porque eu não entendia bem o que era nostalgia.

    Pesadas nuvens

    Abri o jornal e me congratulei, eu era um adivinho, sabia previamente que seria um dia triste: só tinha notícia ruim do início ao fim. Não era a pescaria por coisas ruins e o afundamento de notícias boas, não, era um retrato fiel da realidade brasileira e mundial. A começar com o pessimismo da economia, o BC admitia um PIB negativo no trimestre e, para este ano, a projeção caiu a míseros 1,5, 1,1%. A previsão inicial já era uma bosta.

    Minha memória, meu refúgio

    Sacudi minha memória como se a tivesse colocado em algum liquidificador e escapou algo que me fez sorrir. Há anos o Jornal do Comércio foi homenageado pela Assembleia Legislativa, e um dos deputados que falou disse que sabia de tudo sobre o BIP graças a nós. E emendou uma porção de BIP, então não era mero troca de letra. Bem, pelo menos zerei meu odômetro de humor.

    Um rosário de imperfeições

    O Governo Bolsonaro continua marchando de passo errado, não sabe vender seu peixe e, pior, dá ideia de quem redigiu a explicação descontextualizada foi seu maior inimigo. Então o vice Hamilton Mourão diz o que sabemos ser a verdade: o governo não sabe comunicar. Bidu.

    A ferrovia…

    …da comunicação tem duas vias, uma leva de dentro para fora e outra, de fora para dentro. Para a turma do Capitão é problema duplo: nem eles sabem como carregar o trem da comunicação que vai para a estação Opinião Pública e nem a composição que traz a carga da Opinião Pública para o seio do Governo é entendida. Ou o despachante palaciano abre a carga e diz que é tudo mentira no pacote.

    Os grandalhões

    Há algum tempo, uma dupla de empresários do tipo Dobermann vendeu quase toda a sua participação em plataforma de crédito para um banco estrangeiro por um bilhão e lá vai pedrada. O que sobrou venderam por outro tanto algum tempo depois.

    Os pequerruchos

    Do outro lado, vemos um governo afundado em dívidas em profundidade maior que o finado Titanic, sem ter saída à mão. O Estado, o ente Estado, está quebrado total. No caso gaúcho, mas não só ele, só lhe resta administrar a folha do funcionalismo, como se fosse essa sua principal função.

    A impaciência de Jó

    É com um sentimento e pena que vejo o governador gaúcho Eduardo Leite pedir a investidores norte-americanos que invistam no Rio Grande do Sul. Ponham-se no lado desses investidores. Tem demanda, mas não tem renda e, para complicar, uma burocracia asfixiante terminaria até com a paciência do personagem bíblico Jó.

    O baile

    O Brasil é um país cantador, o que serve como couraça para os rudes tempos que vivemos em que a procela nos afunda. Os argentinos pelo menos têm o tango, e uma frase do compositor argentino Enrique Santos Discépolo define muito bem. O tango, disse ele,  é um sentimento triste que se baila.

    Se existir outro mundo e se o paraíso for verdade e não lorota, eu gostaria de pedir ao ente divino que distribuiu milagres que voltasse no tempo e que a frase de Discépolo fosse de minha autoria. Então, eles são tristes por natureza e nós, com nossos requebros, só temos os guizos falsos da alegria de Orestes Barbosa.

    Porém…

     ..e sempre tem um, o dia termina, meu humilde tugúrio me espera e consegui dar um banho de descarrego na tristeza inicial. Recobrei os guizos da alegria que sei serem falsos, mas é o que a casa oferece. É como a velha história do cara que cai do alto de um prédio e, ao passar da metade, bota as mãos em concha e grita “estou passando pelo 50º andar e por enquanto tudo bem”.

    Direito Agrário

    A Farsul e a União Brasileira dos Agraristas Universitários (Ubau) realizam amanhã a partir das 9h o 1º Simpósio Gaúcho de Direito Agrário e Agronegócio. Objetiva fomentar o estudo do Direito Agrário, aproximando a sociedade acadêmica, produtores rurais, entidades de classe e demais interessados, por meio de palestras com temas relevantes à atividade agropecuária.

    Na oportunidade ocorrerá o lançamento da 2ª edição (revisada, atualizada e ampliada) da obra coletiva “Direito aplicado ao Agronegócio: uma abordagem multidisciplinar” e da 1ª edição da publicação “Certificado de Recebíveis do Agronegócio: os sistemas agroindustriais e o mercado de capitais”.

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  • O invisível é real. As almas têm o seu mundo.

    • Alfred de Vigny •