• A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica. E deixa cicatrizes no cérebro.

    • Noam Chomsky •

  • Jornalismo fiel

    Publicado por: • 18 fev • Publicado em: A Vida como ela foi

    Sempre digo que o jornalismo mais fiel é o da reportagem policial. Ele dá a idade, profissão, detalhes da vida, como marca do carro quando é acidente, enfim, forma um perfil que as editorias de economia não dão. De alguns anos para cá, logo após o nome, vem a idade. Os americanos fazem isso sempre. Devia ser obrigatório aqui.

    Bueno. Claudio Frederico Vogt, um coronel do Exército reformado, tem um blog (www.escritorcfvogt.blogspot.com.br) no qual conta causos da sua mocidade na cidade gaúcha de Sarandi sob sua ótica de forma saborosa. O jornalismo moderno desaprendeu a arte de contar histórias. Tudo dá uma, mesmo coisas bem técnicas.

    Ao caso do coronel, então. Um trecho:

    “Começou uma briga entre dois torcedores. Com caipirinha nas veias, um queria acabar com o outro. No auge da fúria, faltou luz na Cidade. Ninguém via nada! Havia o risco de alguém ser atingido por uma cadeirada perdida. Ciente do perigo, fui me proteger na sala do Presidente. Fiquei na porta aguardando os fatos. O ecônomo não tinha nem lanterna. Contar com a sorte fazia parte da nossa cultura. Seguiram-se momentos de suspense… O brigão, que se achava mais esperto, cometeu um erro estratégico: acendeu um fósforo! Tomou uma bofetada cinematográfica! Os palitos de fósforo voaram! A situação piorou: sem luz, sem fósforo, sem lanterna, com um ferido.

    Palitos de fósforo voaram é muito bom, assim como bofetada cinematográfica. Mas a melhor delas é a cadeirada perdida.

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  • Medonhas barbaridades

    Publicado por: • 18 fev • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Apesar das medonhas barbaridades que a humanidade cometeu ao longo da história, sempre deixo um espaço para me maravilhar com o engenho humano. Nem vou falar nas conquistas tecnológicas no campo da ciência e mesmo no dia a dia. Lembro do primeiro rádio portátil Spika da Sony, que consegui comprar com meu minguado salário de bancário. Ouça um radinho daquela época e compare a qualidade do som com o que você recolhe de músicas do You Tube e as ouve com fone de ouvido que qualquer camelô vende por meia dúzia de pilas.

    Imagem: Freepik

    DO SPIKA AO CHIP

    O que me empolga é quando me debruço sobre os avanços da medicina. Vejam o caso das pontes de safena, que já são obsoletas. Vieram os stents, aquelas molinhas que alargam o que estreitou demais.

    CHURRASCO DE GENTE

    Não faz muito tempo que te abriam ao meio como costilhar inteiro do boi para churrasco capaz de matar a fome de 20 pessoas; depois tiravam uma veia mamária ou outra e faziam gato e sapato do coração até botar peça nova. Depois, costuravam de volta e aí doía pra caramba. Até fechar tudo levava semanas, e para ganhar confiança no taco mais outro tanto. Parace que inventaram a superbonder, que não é cola, é solda, para esse fim. Mas dava rejeição, algo assim.

    ESPAÇO DE SOBRA

    E graças à nanotecnologia, em breve, muito breve, vão te injetar um monte de reloginhos e broquinhas em miniatura que vão te curar antes mesmo da doença aparecer. “Há muito espaço lá em baixo”, disse o pai dessa criança, o físico americano Richard Feynmann. E olha que foi em 1959.

    PENSAMENTO DO DIAS

    Quem bebe uísque com guaraná estraga os dois.

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  • Se a única coisa é a morte, a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano.

    • Graciliano Ramos •

  • O naufrágio do restaurante (final)

    Publicado por: • 17 fev • Publicado em: A Vida como ela foi

    Restaurado após o incêndio de 1973, surgiu um problema oposto no Restaurante Dona Maria: passou a enfrentar alagamentos a cada chuva mais forte, coisa de uns 20 centímetros de água, um horror. A água vinha da Rua da Praia e só sossegava na rua José Montaury, Centro. Quando isso acontecia, um fleumático Ernesto não saía da mesa, só pedia um engradado vazio de cerveja e nele botava os pés. Ali ficava como se um Buda austríaco fosse. Certa noite, veio um toró dos diabos. Minutos depois a casa quase boiava, a maioria dos clientes se mandou. E seu Ernesto e eu sentados sem dar pelota para o dilúvio, comendo salsicha bock e queijo Port Salut.

    Sempre que conversava, o austríaco Moser pegava um palito e batia nele com o paliteiro, à guisa de martelo. Foi então que ouvimos um barulho esquisito vindo do fundo, um chap-chap-chap de alguém caminhando com água pelos tornozelos, quase aquaplanando. Era o médico. Veio direto em cima do Moser e então falou com carregado sotaque nordestino.

    – Aí, seu Ernesto, quer dizer que depois de pegar fogo, a casa agora vai a pique?

    Dito isso voltou para a sua mesa e para seu harém, fazendo chap-chap-chap de novo. Silêncio.

    Pois depois de ouvir essa, o palito só não ficou cravado na mesa de madeira porque quebrou antes.

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