Ouro alemão
Nos anos 60, existia, em uma cidade do Vale do Caí, uma figura folclórica, o J., que tinha como ofício a venda de joias para os colonos da região. Percorria a colônia com seu Ford Modelo A e apresentava-se como especialista em ouro.
– É ouro alemão, legítimo – garantia, para depois cochichar no ouvido dos otários:
– Um parente me trouxe, sem imposto, muito barato. E de qualidade superior ao ouro brasileiro.
Claro que era uma mistureba braba de metais, o chamado “ouro de tolo”, mas o preço baixo e o brilho intenso convenciam a rapaziada. Venda feita, o Jorge se escafedia, porque, em poucas semanas o metal, vestia luto. Prudentemente, pós-venda nem pensar.
Só que, um dia, ele esqueceu desta regra de ouro e voltou ao local do crime. Tão logo os moradores viram o Modelo A azul escuro foram direto para a cobrança, porque o dourado virou preto. Imperturbável, ele olhou as peças e partiu para o ataque olhando as vítimas por cima dos óculos.
– É, eu temia que ouro alemão não ia se dar bem com o nosso clima.