Os três pontinhos
Uma das mais notáveis diferença entre o português de Portugal e o nosso é que o de lá não tem subtexto. Por isso tem poucos filósofos, talvez o Spinoza seja a exceção. Mas eles acabam se entendendo. Ocorre que, por motivos outros, o brasileiro também deixou de ter subtexto, cria direta do baixo estoque cultural.
Estava eu ontem na academia ouvindo alguém da rouparia comentando a ação da Polícia Federal na residência do deputado Eduardo Cunha, culminando com a frase carregada de ironia que chegava a transbordar “coitadinho do Cuinha…” Cheguei a ouvir os três pontinhos.
Um desses armários pré-fabricados saiu molhado do box do chuveiro e começou a vociferar contra o coitado. Coitado porra nenhuma, esbravejava, como é que tu pode achar que um cara como o Cunha é coitado?
Como isso virou praga zumbi, é bom sempre carregar três pontinhos na carteira. Eu os detesto, mas tem gente que só capta ironia com eles. Mesmo assim, é perigo igual. Tem gente que é analfabeto em três pontinhos.