Os surdinhos
Há anos, fui comer uma pizza no Pizzaiolo, cujo cardápio tem uma pizza que homenageia a página 3 que edito no Jornal do Comércio, Começo de Conversa. Até foi criação minha. Não é nada demais: tomate, presunto e lombo canadense, mas tudo em doses generosas, menos o tomate. Foi aí que encontrei os surdinhos.
Quando atravesso o corredor da Churrascaria Barranco para pegar o carro no estacionamento, deparo-me com dois veteranos jornalistas gaúchos. Um deles era o Carlos Bastos, e o outro era o colunista Paulo Sant’Ana. Parei para uma breve conversa.
O Sant’Ana parecia não entender o que eu falava, porque eu dizia capital e ele entendia catedral; falei honorários e ele me perguntou o que os bancários tinham a ver com o papo.
– Fala alto, porque ele tá completamente surdo – gritou o Bastos.
Respondi usando o mesmo volume de voz que ele usou, quase gritando.
– Ele sempre foi surdo, só que agora piorou muito.
O Bastos botou a mão em concha na orelha.
– Hein?