Os olhos do poeta
Tem uma história do poeta Mário Quintana que gosto demais. O ano era 1965 ou 66, e o então prefeito Célio Marques Fernandes realizou obras profundas na avenida Independência, em Porto Alegre. Para dizer a verdade, o charme da Indepê desapareceu. Tinha canteiro central com árvores em toda a sua extensão, e não como está hoje. Enfim, modernidades.
Pois foi numa madrugada risonha e franca que o poeta e um jornalista muito querido do meu tempo, o Dario Vignoli, já falecido, subiam a avenida bem pelo meio da pista em obras, no sentido bairro-centro. Naturalmente, que ela estava fechada para o trânsito, o que foi ignorado pelo motorista de um Alfa Romeo JK. Com os faróis acesos, ela descia a Independência rumo a sabe-se lá onde.
Os faróis do JK atingiram em cheio os passageiros da madrugada, de forma tal que Quintana e Vignoli tiveram que cobrir os olhos com as mãos. Surpreso, o poeta virou-se para o amigo e perguntou.
– Quem é esse sujeito que nos fixa com esses olhos esbugalhados?