Os madrugadores  

18 jul • A Vida como ela foiNenhum comentário em Os madrugadores  

Um PM falsificado não é tão incomum, por ser estratagema usado por assaltantes, mas, nos anos 1970, teve um caso. Lembrei dele porque me deram a notícia que morreu o jornalista Moacir Jalowitski, que trabalhou na Imprensa da Assembleia Legislativa gaúcha. Pouco antes do final da década ele comprou um bar na rua Duque de Caxias, imediações do viaduto. Alguns meses depois, o Moacir convidou a mim e ao também jornalista Carlos Coelho para conhecer o bar, misto de lanchonete. Pois foi posto em sossego bebendo uma Faixa Azul que ele nos contou da falsificação.

Quase em frente ao bar fica uma ruazinha que liga a Duque com o finzinho da Rua da Praia, na Praça do Portão/Annes Dias, trecho na época com poucos prédios residenciais. Não eram nem sete horas da manhã, aparecia periodicamente um guincho e um PM – o trânsito na época era feito pela Brigada Militar. Então, começava aquela barulheira de correntes e motor em giro alto para rebocar carros estacionados em fila dupla, maioria moradores dos prédios.

Enquanto isso, o PM fazia aquela afiguração de preencher talão de multa. Alertados pelo barulho, moradores desciam sonolentos para evitar que seus carros fossem guinchados. Solícito, o PM cochichava algo no ouvido deles e, em seguida, rasgava a multa, não sem antes receber algo da mão do morador. O Moacir via a cena com alguma frequência e, um dia, contou o caso para seu irmão, que era Capitão da BM.

– Impossível – falou o mano. – Brigadiano não sai para a rua antes das oito e meia nove horas. Deve ser migué.

Quando a dupla guincho-PM reapareceram, o Jalowitski foi conferir a cena mais de perto. Olhou bem para o PM. Era mesmo um esquema para tirar dinheiro dos moradores do prédio.

No capacete estava escrito 9º BPM; na ombreira do policial militar, 1º BPM. Avisou o irmão, que prendeu os caras. Neste caso, quem cedo madrugou, Deus não ajudou.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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