Os ladrões do Nelson
Nos anos 1990, eu e um grupo de amigos criamos uma roda que batizei de Irpapos, nem lembro direito o desdobramento da sigla, algo como Instituto Rua da Praia de Estudos Sociais, Econômicos e Políticos. Era para rir mesmo, nada de discutir coisa séria. Na roda, que se reunia na frente da Galeria Chaves depois do almoço, havia o Nelson. Qualquer menção que se fizesse a políticos e governantes, o Nelson já vinha de foice e gadanho.
– Ladrão! É tudo ladrão!
Caçoávamos dele, porque ele não livrava a cara de ninguém, pouca gente merecia sua condescendência. Parecia a história bíblica dos justos inexistentes de Sodoma e Gomorra. De formas que a frase virou bordão da roda. Era alguém falar em alguém e o Nelson já atalhava.
– Ladrão, é tudo ladrão!
E nós, em coro:
– Ladrão, é tudo ladrão!
Outro dia, encontrei um sobrevivente do Irpapos e lembramos do Nelson. Instantaneamente, e com fulcro da Lava Jato e seus desdobramentos, ambos repetimos ao mesmo tempo a frase imortal.
– É ladrão, é tudo ladrão!
O Nelson tinha razão. E bola de cristal.