Os inspetores da Brahma

4 set • A Vida como ela foiNenhum comentário em Os inspetores da Brahma

 No temo em que a Brahma e a Antárctica dominavam o mercado de bebidas e refrigerantes, com exceção de alguns nichos de cervejarias regionais, o que hoje chamamos de marketing era algo mais intuitivo do que uma ciência. Ele recém engatinhava, a propaganda era o grande guarda-chuva que abrangia Relações Públicas e promoções. No Interior gaúcho, a Brahma levava vantagem, porque surgiu anos-luz antes da cervejaria paulista. Mas a empresa paulista incomodava a rival com sua cerveja Faixa Azul.

 Não sei se antes, mas, nos anos 1960, as cidades do interior gaúcho recebiam de vez em quando um funcionário da Brahma que se apresentava como “inspetor”. O trabalho desses caras era fiscalizar os representantes regionais e seus depósitos, estoques, comercialização boa ou má, essas coisas.

 Basicamente, um inspetor pagava cerveja para todo mundo. Eles procuravam um polo de concentração de pessoas influentes, como os clubes sociais, na época muito fortes com seus bailes e outras promoções. Ganhava licença de sobrevoo da diretoria e faziam amigos, influenciavam pessoas – hoje formadores de opinião. Eram simpáticos e bons de papo.

 Pelo menos na cidades que conheci, a Antárctica fazia algo parecido, mas era mais agressiva no patrocínio de grandes festas ou eventos como jogos de futebol. Então pagavam faixas, cartazes, decorações, tudo sempre vendendo o carro chefe, que era a Faixa Azul. O nome era sonoro, pegava bem. Em compensação, ninguém sabia a origem do nome Brahma, que remete a uma divindade indiana.

 Interessante como nós éramos ingênuos, como o mundo era ingênuo. Uma pegadinha que se fazia muito em casas de família era colar os rótulos das cervejas no teto. Isso feito, saíamos da sala ou da casa. Quando alguém da família entrava se perguntava como é que um rótulo de cerveja estava firmemente colado no teto. É mais difícil explicar do que fazer a mágica.

 Consistia em molhar bem a garrafa até encharcar o rótulo para permitir sua retirada. O verso tinha uma boa dose de cola. O segredo era abrir um lenço na palma da mão, colocar nele o rótulo com a parte da cola para o lado de cima e impulsionar tudo com alguma violência no teto. O lado da cola grudava e o lenço caía.

 Era o crime perfeito.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »