Os desaparecidos
A partir dos anos 1960, os missionários mórmons passaram a fazer parte da paisagem de Porto Alegre. O templo, a Igreja dos Santos dos Últimos dias, ficava na avenida João Pessoa, um pouco adiante, no sentido Centro-Bairro, do Palácio da Polícia. Esquina com a Ipiranga.
Para quem não sabe, os mórmons são praticamente donos do estado norte-americano de Utah. Naqueles tempos, eles eram inconfundíveis. Os americanos, quase sempre altos e atléticos, caminhavam sorridentes em dupla com um livro embaixo do braço, sempre com camisa branca de mangas curtas e gravata curta. Pareciam cópias xerox um do outro.
Pois eles desapareceram das ruas. Ou pelo menos, não os tenho vistos. Como foram anos turbulentos, a esquerda dizia que eram todos agentes da CIA. A esquerda brasileira sempre foi de acreditar em cédulas de 30. Certa vez, na década de 70, um motorista da Zero Hora foi de viatura do jornal para buscar a mulher no culto. Entrou com todo o respeito justo na hora em que o pastor perorava. Ao ver o estranho no ninho, pôs se a vociferar olhando direto para ele.
– A bebida meus caros, a bebida é a causa de todos os problemas da humanidade. Guerras, casamentos e até amizades desde criança são destruídos pelo maldito álcool.
A essa altura, parte dos fieis voltou-se para o motorista, que morria de vergonha. Será que está tão na cara que eu gosto de uma cervejinha? A explicação não estava exatamente na cara, mas na camiseta que usava.
Com letras bem grandes lia-se “Eu bebo todas”.