Os cabarés de Porto Alegre (final)

8 ago • A Vida como ela foiNenhum comentário em Os cabarés de Porto Alegre (final)

 Para quem não conheceu os cabarés dos anos 1960 e curte casas noturnas de garotas de programa, o caminho mais curto é sempre linha reta. O cara vai, bebe doses várias de coragem e se atraca em uma. Incontinenti, ela se enrosca no cliente como fosse cipó em câmara rápida. Nos cabarés não, neles havia todo um ritual. Primeiro, que havia quase sempre uma pista de dança e, se o layout da casa não desse lugar a uma, improvisava-se. Então, quem entrava dava uma geral na casa, mais como macho típico a delinear seu território, do que propriamente começar a seleção – elas ficavam sentadas em sofás ao redor da pista, em mesas, quando o espaço permitia.

 O começo era assestar o radar em uma. A diferença começava aí, elas não pulavam no seu pescoço como zumbis. Não, no início eram olhares furtivos de lado a lado. Depois de algum tempo de olhares cada vez mais fulminantes, as opções eram duas: você a convidava para dançar ou para sentar ao seu lado ou à sua mesa, se fosse o caso. A ungida então sentava-se e aí vinha o papo que Adão deve ter perguntado a Eva, nome, o que faz, de onde veio e ela pediu o seu perfil. Normalmente, mentia-se, ou para cima ou para baixo.

 Os que preferiam dançar, faziam-no solenemente. Primeiro, tinha que ser boa de pé, e estou falando de danças de salão. Na mesa ou rodopiando, vinha o momento de sentarem lado a lado. E lá vinha o garçom na velocidade do Papa-Léguas. O que vai querer, madame, e o senhor, cavalheiro. Quando o cavalheiro não se coçava, ela tomava a iniciativa. Nas casas de menor valor agregado, ela vinha com essa:

 – Paga uma Cuba, benhê?

 Rum e Coca-Cola sempre foram o líquido oficial dos cabarés da classe média. Na alta, a pedida era champanhe. Na maior parte das vezes, vinha uma Peterlongo demi-sec, servida naquelas taças largas que pareciam uma piscina oval. As bolinhas que estouravam faziam cócegas na ponta do nariz.

 Depois, bem depois, vinha a questão do preço. Gaúcho é conhecido no Brasil inteiro por pechinchar. Em Porto Alegre, só havia dois ou três motéis, ficavam longe, e o automóvel era para poucos. Daí que as casas tinham alguns poucos quartos. Já na época, tinha fila de espera.

 E finalmente, vinha o Combate de Eros. Para quem ia pela primeira vez, especialmente os jovens, a epopeia era contada em prosa e verso para a turma de amigos durante meses. E obviamente que cada um dizia que a mina tinha se apaixonado por ele e que ele tinha dado pelo menos umas três sem voltar para posição de descanso. Como sentinela de quartel, sempre de prontidão.

 O que era uma grossa mentira, vocês sabem. Pura gabolice. Ninguém tinha depoimento da mulher registrada em cartório e com firma reconhecida. E, na maioria das vezes, as duas horas de prazer na cama resumiam-se em poucos minutos e tanto.

 Como dizem os milicos da Infantaria quando se referem à arma da Cavalaria, serviço rápido e mal feito.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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