Operação Digitais
Eu não tenho impressões digitais. Nos dez dedos. Ou melhor, até tenho, mas estão mais escondidas que balanço de agiota. Eu e muitos jornalistas da minha geração que manuseavam papéis, principalmente laudas de jornal, antes do advento do computador. Gráficos também podem não tê-las. Papel é um eficiente abrasivo e, ao longo dos anos, mifu.
Então é praticamente impossível que a biometria funcione comigo. No jornal, no clube, em bancos, tentei uma dúzia de vezes com todos os dez dedos e necas. Até usando a palma da mão é difícil. Recairá uma praga maligna para o primeiro que sugerir que eu use os dedos do pés.
Fui a um banco e usei o cartão. Casualmente, o gerente estava ao meu lado e perguntou porque não usava a biometria. Expliquei pela 3.245ª vez. Que coisa, disse ele, insinuando que eu é que não sabia botar dedos no leitor. Então fui ao ataque.
– Meu caro gerente, o freguês sempre tem razão, certo? Então eu acho que, dado esse meu problema insolúvel, o teu banco me pague uma cirurgia plástica de transplante de digitais, porque sou um bom cliente.
Respirei fundo e engrenei a segunda.
– Não transplante de dedos, só de digitais. Doadores tem às pamparras, loucos para se ver livres delas. Só na Lava Jato deve ter uns cem.
Deu Mandrake no cara. Ele ficou me olhando sem falar nada. Acho que está lá até hoje.