O voo do Beija-Flor

19 jun • Caso do Dia, NotasNenhum comentário em O voo do Beija-Flor

Publiquei semana passada que o Neguinho da Beija-Flor anunciou que iria se mudar de mala e cuia para Portugal, cansado que estava da violência no Rio de Janeiro. Isso dito por alguém que nasceu no morro, vive no morro e é festejado pelo morro pode dar bem a dimensão de como andam as coisas na terra do Cristo Corcovado.

Vai e volta

Um leitor colocou em dúvida se o carioca Neguinho realmente aguenta ficar longe do Brasil, do samba, das escolas e do Carnaval. Bem, ele falou que, no Carnaval, vem de volta e vai de volta em seguida. Olha, eu não conheço o cara, mas entendo o seu sentimento, ainda mais que ele já não é mais guri e está numa idade em que tudo parece muito assustador. Eu mesmo tenho dito que, se tivesse grana, iria para lá. Mas isso deve ser entendido como intenção de voto.

O alemão de Portugal

Porém, e sempre tem um, o leitor tem lá um pouco de razão quando se olha o perfil vida e obra de Neguinho da Beija-Flor. E conto um causo para ilustrar. Em 1985, estive em várias cidades da Alemanha, e uma ficava no Vele do Ruhr, se chamava Neuss. O dono do pequeno hotel era também o barman. Durante três noites, conversamos sobre Brasil usos e costumes. Facilitava a conversa o fato de ele ser casado com uma portuguesa. Na última noite, ele contou o caso de um grande amigo dele que era casado com uma carioca, sambista de escola.

O sol por testemunha

No início, disse ele, o casal ia muito bem – foi amor à primeira vista, quando o alemão visitara o Rio e foi a um ensaio de escola de samba e a conheceu. Era do morro. Bem, tudo IA bem até que se passaram alguns meses, oito ou nove. De repente, ela começou a ficar sorumbática, deprimida, queixava-se da falta de sol, da caipirinha, dos amigos, da praia, da luz e do calor. O que eu achava, será que era coisa passageira?

Sem final feliz

Fiquei com pena do amigo, mas tive que dar a real. Falei para ele dizer para o amigo que, mesmo à distância, eu achava que o casório estava destinado ao fracasso. Você não substitui um estado de alma por uma cidade fria, pequena e sem atrativos e trancada todo dia em casa. Ficou de falar com ele. Era suspeita dele também. Não sei o epílogo, mas não é difícil adivinhar o desfecho.

Ausência de fatos…

Foi a ausência de fatos extra Copa que tornou anêmicas as edições dos jornais ou foi o deslocamento de um exército de jornalistas de outras editorias para a cobertura lá e cá? Tem uma máxima de redação que diz “notícia não tira férias”.

…ou ausência de jornalistas?

No caso do Brasil, até tira um pouco. Entretanto, não a esse ponto. Vale o mesmo para a Lava Jato. A magreza na cobertura do dia a dia também deve-se à carência de repórteres pelo emagrecimento das redações nos últimos dois ou três anos. A diminuição da receita publicitária forçou as demissões. Atingiu mais quem ganhava melhor, por sinal. Então, perdemos em quantidade e qualidade. Como eu sempre digo, não estamos contando a história como ela é.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »