O velório do Xenofonte
Um radialista esportivo da velha guarda apresentava um programa no final da noite numa rádio de Porto Alegre e, volta e meia, ia visitar as moças que ganham a vida na horizontal.
Sempre dava rolo em casa, pois a primeira dama cobrava os sumiços. Foi quando ele teve uma brilhante ideia: passou a ir a velórios em plena madrugada – na época ainda não se assaltava defunto – assinava aquele livro de presenças e voltava para as “primas”.
Ao voltar para casa, ouvia o sermão e explicava que tinha ido ao velório do Ananias, Godofredo, Xenofonte:
– Que velório que nada, estavas com tuas putas vagabundas – dizia a matriz, soltando fogo pelas ventas.
Dias depois, vinha pelo correio uma cartinha de agradecimento pela presença no velório daquele ente querido. O colega mostrava a carta para a perpétua e completava:
– Eu te falei a verdade.
E a mulher, coitada, se desmanchava em desculpas. Desnecessário dizer que, depois daquele dia, o que morria de amigo dele não era normal. E ele não faltava nunca aos velórios.