O velório do Xenofonte

4 maio • A Vida como ela foiNenhum comentário em O velório do Xenofonte

 Um radialista esportivo da velha guarda apresentava um programa no final da noite numa rádio de Porto Alegre e, volta e meia, ia visitar as moças que ganham a vida na horizontal.

 Sempre dava rolo em casa, pois a primeira dama cobrava os sumiços. Foi quando ele teve uma brilhante ideia: passou a ir a velórios em plena madrugada – na época ainda não se assaltava defunto – assinava aquele livro de presenças e voltava para as “primas”.

Ao voltar para casa, ouvia o sermão e explicava que tinha ido ao velório do Ananias, Godofredo, Xenofonte:

 – Que velório que nada, estavas com tuas putas vagabundas – dizia a matriz, soltando fogo pelas ventas.

 Dias depois, vinha pelo correio uma cartinha de agradecimento pela presença no velório daquele ente querido. O colega mostrava a carta para a perpétua e completava:

 – Eu te falei a verdade.

 E a mulher, coitada, se desmanchava em desculpas. Desnecessário dizer que, depois daquele dia, o que morria de amigo dele não era normal. E ele não faltava nunca aos velórios.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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