O velório
Os habitantes da famosa Mesa 1 do Bar e Rotisserie Pelotense, na rua Riachuelo entre Borges de Medeiros e Praça da Matriz, ficaram desolados quando souberam que um antigo frequentador da roda havia partido para As Grandes Destilarias, o céu dos que admiravam garrafas de uísque.
A notícia chegou à roda por volta do meio-dia de um sábado, portanto tinham habeas corpus. Depois de incontáveis brindes em memória do falecido, que não viam há anos, depois de litros de lágrimas e soluços, informaram-se com a família sobre o cemitério e a capela. O Pedruva cumpriu esse doloroso dever. Então partiram para o velório no cemitério João XXIII.
Em lá chegando, foram direto ao caixão. O amigo estava irreconhecível pela longa doença e desgaste dos anos. Choraram compungidos, cumprimentaram a que parecia ser a esposa, e ficaram de pé no recinto, fungando e lutando contra a gravidade. Depois de um certo tempo, um deles foi novamente ao caixão, fitando o rosto do finado por um bom tempo. Em seguida, falou em voz baixa com um dos presentes cochicho extinto, conduziu a tropa para fora da capela.
Não era o amigão que estava sendo velado. Uma rápida consulta por telefone com familiares do verdadeiro defunto mostrou que não era a capela nem mesmo o cemitério, o velório era no São Miguel e Almas.
Foi então que souberam que o Pedruva era muito mais surdo do que parecia.