O uísque e o ódio de antigamente

10 ago • A Vida como ela foiNenhum comentário em O uísque e o ódio de antigamente

A partir de meados dos anos 1960, bebia-se muito uísque nestas bandas. Então começaram a surgir as whiskerias ou uisquerias. As pioneiras foram o George’s Bar, na Cristóvão Colombo, e o Whisky Center, numa galeria da Riachuelo.

O primeiro servia marcas de primeira linha, envelhecidas de 25 anos para cima. Essa bebida era muito cara na época, mesmo as marcas nacionais comuns. Só rico podia ir no George’s beber Port Salut, garrafa envolta em veludo negro.

Já o Whisky Center era mais em conta. Como ficava perto da Assembleia, virou QG de políticos & política. Grandes debates, grandes solos fora da tribuna da Casa do Povo. Ideias molhadas pelo uísque, não raro as discussões eram ásperas, no limite do pega pra capar.  Mas eram tempos de ódios solitários, não do ódio de hoje.

Pois foi no início de certa noite que o ambiente ficou carregado. De um lado, deputados da situação e, de outro, da situação. Um líder de governo falou algo pessoal contra um oposicionista. Foi um levantar de cadeiras com dedos em riste e inundação de perdigotos.

O clima era de Revolução Farroupilha, o Retorno. Súbito, um desconhecido cabeludo espremido no canto do bar botou a mão no bolso de trás da calça, como se armado estivesse.

Cotovelos entraram em modo coletivo para chamar atenção dos que não haviam visto o sujeito. Podia ser um 44 quem sabe, desses de atravessar bloco de motor. Fez-se meio silêncio e, nesse preciso momento o cabeludo sacou  um…pente.

Da estupefação ao estado de riso geral e depois para as gargalhadas foi um upa. Milagre do Pente. Todos se abraçaram, a turma do deixa disso se aposentou. E dê-lhe uísque.

Ainda espremido num canto, o cabeludo não entendia o motivo da confraternização.

Imagem: Freepik 

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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